"We encourage you to rethink your preconceived notions, question authority and create other methods for survival"
This is our motto taken from a sleeve of a record. We are here to spread the word and to learn the world, join us in the celebration of new and not so new bands, join us in the celebration of music.
Na noite que antecipou o regresso ao Reverence Santarém teve lugar mais uma das sessões warm up no Sabotage Club. Desta vez o cartaz tinha o seu quê de misterioso e anunciava uma banda que iria fazer a sua estreia mundial. Sabíamos que os Northern Death Cult
eram um projecto paralelo de alguns dos elementos dos Janitors, banda
proveniente da Suécia que iria actuar no sábado ao final da tarde no
Reverence.
Qual não foi a surpresa ao
vermos o palco ser tomado por 5 músicos, todos eles vagamente
familiares. Mas isto apenas para quem já tinha andado a percorrer os
vários trilhos desenhados para os dois dias seguintes. Ainda assim a
dúvida persistia, e a ser real a anunciada estreia, a ansiedade aumentou
em segundos, pois não tínhamos nada com que nos guiar, apenas a
referência aos Janitors, o que por si só era já uma referência bastante
forte.
Aos primeiros acordes a
suspeita ou a dúvida esfumaram-se… ou agudizaram. Ou estávamos perante a
melhor banda de covers de sempre ou eram mesmo os Janitors pois de
imediato se reconheceu a toada poderosa de “Here They Come” do Ep de
2014, Evil Doings of an Evil Kind.
O som enche a sala, cria uma
atmosfera densa e sedutora. Os cinco músicos enchem completamente o
palco mas a interação entre eles é já de tal forma intrínseca e natural
que todo o concerto parece coreografado ao milímetro.
Trazem-nos Trojan Ghost e
Blizzard e também a épica A-Bow, música etérea com cerca de dez minutos
que nos captura para uma viagem extra corpórea.
Vão buscar-nos fora do nosso corpo com Greed e Message.
No meio de todo o turbilhão
de sentimentos que a música nos desperta, duas coisas importantes a
reter; o autocolante na guitarra de Henric Herlenius (Noise Against
Fascism), que num mundo cada vez mais fechado sobre si próprio e com
cada vez menos mensagem real e atuante causa impacto e nos leva a
pesquisar um pouco mais sobre a banda e as suas fontes de inspiração.
É fascinante a entrega destes
cinco músicos ao que fazem e como escolhem através da música que fazem e
dos seus concertos tornar-se um veiculo inspirador e instigador da
tolerância.
Nas palavras deles : “Este
registo é uma declaração de intenções. É uma chamada de armas ao nosso
lado. É um pequeno protesto. Seja contra a fé nas falhas religiosas de
falsos profetas aclamados por si mesmos ou clero intocável de alto
poder, egoísmo capitalista, idiossincrasia racista ou fascismo
contundente escondido na ignorância.”
Um excelente concerto com uma
ou mais componentes inesperadas. Uma banda que afinal era outra e a
descoberta das suas intenções na sua passagem pelo mundo.
Mas a noite iria continuar ainda com os Zanibar Aliens
e o seu rock pincelado de blues que de imediato nos remete às melhores e
maiores referências da década de 70 nessa área da música.
A sala encheu-se um pouco
mais, percebeu-se bastante bem que muitos dos presentes estavam ali para
os ver e os Zanibar Aliens fizeram questão de dar o seu melhor em cada
música criando uma atmosfera divertida e cheia de groove, que continuou
depois pela mão do Nuno Rabino, incrível Dj residente do Sabotage Club.
Desde Fevereiro que aguardava o lançamento do novo álbum dos californianos, oriundos de São Francisco, Wooden Shjips. Fiquei um pouco ansiosa com o primeiro single, posso mesmo dizer que à primeira audição não consegui obter a sensação que imaginara depois de esperar desde 2013 um sucessor para Back to Land...Mas como quem espera sempre alcança, o todo entende-se muito melhor e surpreende mais pela qualidade habitual do que por alguma novidade inusitada que pudesse conter.
V, Wooden Shjips, 2018
Esperava qualquer coisa mais dinâmica e com mais garra e Staring at the Sun ficou lá no meio da playlist das coisas a ter em atenção e que marco na agenda para não perder de vista, mas estava lá como lembrete, não porque tinha que a ouvir até à exaustão como ouvi Vampire Blues ou I Hear The Vibrations.
Mas Eclipse, a primeira música de V é isso. É aquela música que me vai perseguir no loop das minhas noites acordada, ou nas minhas viagens de metro, ou aquela que, assim que tiver oportunidade vou pôr a tocar. Wooden Shjips ao seu mais alto nivél, hipnótico, rítmico e sonhador, cerca de 6 minutos e meio vertiginosos.
In The Fall é o momento de respirar depois da espiral rítmica de Eclipse. Mostra-nos o lado contemplativo dos californianos, uma música que de certa forma é orquestrada para nos proporcionar uma viagem, e se fecharmos os olhos quase que conseguimos senti-la a atravessar o nosso corpo, quer seja através da guitarra mágica de Ripley Johnson, quer seja através dos suaves sintetizadores de de Nash Whalen.
Red Line, que foi o segundo single, por seu turno parece estar entre as duas anteriores, tanto no ritmo como na distribuição de emoção mais leve e ligeira,muito embora, como alguns singles pertença àquela estranha classe do primeiro estranha-se, depois entranha-se que Fernando Pessoa atribuiu à Coca-Cola.
Already Gone, o terceiro single que saiu horas antes do álbum é uma caminhada pelas ruas ensolaradas da Califórnia que contém nos seus cerca de 4 minutos quase todo o sol dessas paragens, através da guitarrada descontraída de Ripley e da bateria suave e certeira de Omar Ahsanuddin, e que termina num fade-out relembrando um qualquer pôr de sol de verão, do qual Staring At The Sun é a continuidade certeira. Staring At The Sun é uma belíssima faixa, quando inserida no contexto de V, entre Already Gone e Golden Flower é muito mais forte que isolada.
Os seus sete minutos parecem aquelas viagens que fazemos a ver o sol desaparecer no mar no fim de um esplêndido dia de praia e sol e da qual Golden Flower é sucessora natural na história do álbum, impondo-se à medida que avança para se tornar num loop rítmico insaciavél que depois vai desaparecer suavemente para dar lugar a Ride on, que melancólica, mas ao mesmo tempo feliz, em tom de conclusão nos avisa que a viagem está a chegar ao fim.
Already Gone, V
Definitivamente o equilíbrio entre a informação que querem dar e a que efectivamente nos dão é pensado. Os singles, a capa, a forma como se mostram. Os californianos mantiveram-se completamente iguais a si próprios, nada de novo neste horizonte quente e ensolarado, é certo. Mas ao mesmo tempo todas as suas músicas tem o travo a primeira vez, não apenas porque são novas, mas porque a melodia é fresca e ao mesmo tempo quente, onde o ritmo é atravessado pela guitarra cósmica de Ripley e a sua voz nos leva a todos os sítios onde gostaríamos de ir num qualquer verão do passado, presente ou futuro.
Wooden Shjips ao vivo na KEXP em 2011
Existindo ou não continuidade entre as faixas, como se cada uma delas fosse um capítulo, um momento completamente distinto no disco, que nos consegue reportar no seu conjunto a quase todos os momentos anteriores dos Wooden Shjips, sem qualquer prejuízo do seu futuro, ao processar o álbum, sente-se a história e a vertigem construida desde Eclipse a Ride On.
Agora vamos cruzar os dedos e esperar que nos calhe um concerto aqui neste rectângulo à beira-mar plantado.
A Fuzz Club é actualmente uma das muitas editoras que nasceram na era digital. Tem no seu catálogo bandas como os Radar Men From the Moon ou os portugueses 10000 Russos. Mas o que é que os distingue de tantas outras?
Tem vindo a crescer e a dar dinamismo a toda a cena do novo psicadélico através de colaborações e parcerias mas dá nas vistas sobretudo o seu árduo trabalho que aposta na qualidade e na estreita relação com as bandas com quem trabalha.
Aproveitámos a colaboração que este tem com o Reverence Santarém e que traz ao festival bandas como os Underground Youth, Noon, Is Bliss e os portugueses 10 000 Russos, para saber um pouco mais sobre uma editora que cada vez passa menos despercebida.
Falámos com Casper Dee, mentor e executor da ideia que nasceu há mais de dez anos e que começou como um site de partilha de boa música mas cresceu para se tornar uma editora que neste momento comemora o seu quinto aniversário.
Isabel Maria – Quem são as pessoas por de trás da FUZZ?
Casper Dee – Existem várias pessoas envolvidas na FUZZ CLUB, mas somos a maior parte do tempo 2 pessoas a gerir as operações. Eu ( Casper Dee) o fundador e pau para toda a obra e o Jack Palfrey que gere as Relações Públicas e o Marketing da editora. Ocasionalmente a nossa equipa integra estagiários, e por vezes amigos e mesmo a esposa.
Temos também uma rede de fãs apaixonados por música espalhados pelo mundo que nos ajuda de enumeras formas mostrando-nos novas bandas ou promovendo aquilo que editamos.
Não esquecendo as bandas e todos os que trabalham com as mesmas. É uma comunidade musical e através da FUZZ CLUB tentamos puxar por algumas das coisas boas que estão a acontecer dentro dela.
Isabel Maria – Como nasceu a FUZZ CLUB?
Casper Dee – A Fuzz CLUB apareceu como um perfil de MySpace em 2006 com o intuito de criar um espaço onde podias encontrar boa música. Depois comecei uma marca de t-shirts de bandas com o mesmo nome porque na altura o vinil estava a morrer. Mas por volta de 2008/2009 as coisas começaram a mudar. Estava uma coisa nova a começar e toda a gente parecia excitada com isso. As vendas de vinil aumentaram contra todas as probabilidades. Havia coisas a acontecer em Austin, Brooklin e Londres e boas bandas a aparecer on-line. Uma dessas bandas foram os Undergound Youth. Tive sorte. Tinha algum dinheiro no bolso e pensei: “Que se lixe! Vamos ver até onde isto nos leva!” Então falei com o Craig da banda e a editora nasceu daí.
Isabel Maria – Quando começaram qual era a vossa expectativa, o que procuravam fazer?
Casper Dee – Acho que não tínhamos qualquer expectativa. Na verdade só sabíamos que queríamos fazer qualquer coisa fixe e a Fuzz Club era a melhor ideia que tinha naquele momento. Honestamente não fazia ideia naquilo em que me estava a meter. Provavelmente ainda bem que não o sabia. Naquela altura a indústria musical estava bem pior que agora e por isso as expectativas em tornar aquela ideia num trabalho a tempo inteiro. Mas afinal chegámos até aqui.
Isabel Maria – Qual foi o maior desfio da FUZZ CLUB?
Casper Dee – Obviamente com tão poucas pessoas no controlo das operações é um desafio por si só. Quer dizer que tens de aprender a fazer tudo sozinho. Desde fazer os posters à contabilidade. É bastante compensador mas isso acabou. Agora só quero delegar trabalho e fumar uns cigarros.
O maior desafio na indústria musical actualmente é que existem tantas bandas e há tanta música disponível, que a musica ficou sem valor. Por esse motivo, para nós e para a maioria das editoras, o futuro está preso por um fio e depende de colecionadores à séria que ainda gastem dinheiro em música. Mas eu acho que a maior parte doa fãs de música sabem que é como um sistema de dar e receber. Se querem continuar a ver boas banda e a ouvir boa musica nós precisamos do apoio deles e eles estão a apoiar-nos e por isso está tudo bem por agora.
Isabel Maria – O vosso catálogo tem bandas como os 10000 Russos, Singapore Slings, Radar Men From The Moon. Também colaboram com The Reverberation Appreciation Society / Austin Psych Fest. Têm um plano traçado ou vão ao sabor da corrente?
Casper Dee – Sim. Primeiro a música tem de estar a transbordar de reverb e têm de ter Dead ou Black no nome. Também testamos todos os bateristas precisamos de saber se conseguem manter o mesmo ritmo durante 10 minutos.
Agora a sério, apenas agarro na música que gosto. Hoje estamos numa posição em que trabalhamos com bandas muito boas e isso parece atrair outras bandas de qualidade.
Obviamente que para uma editora trabalhar com uma banda tem de fazer sentido em termos de negócio, então tentamos trabalhar com bandas que trabalham no duro e que fazem muitas tours. Posso dizer que 99% das bandas têm outros trabalhos o que gera sempre dificuldades quando agendamos uma tour.
Colaboramos com TRAS / Austin Psych Fest em projectos como a série de compilações “The Reverb Conspiracy” e apoiamo-los como podemos pois o trabalho que eles fazem com o Levitation Festival é importantíssimo para manter a cena viva.
Isabel Maria – Esta entrevista acontece pois a FUZZ CLUB vai celebrar o seu 5º aniversário no FESTIVAL REVERENCE SANTARÉM. Como surgiu esta parceria?
Casper Dee – Sempre gostei de vir ao Reverence Festival. O primeiro ano então foi uma das melhores experiências que tive em festivais.
Creio que foi o Nick Allport que nos contactou e perguntou se queríamos fazer uma residência este ano no Reverence. Coincidia com o aniversário da editora e estamos muito contentes e agradecidos ao Reverence que possa ter acontecido. Portugal é um sitio muito bonito com pessoas super amigáveis. Estou desejoso que comece.
Isabel Maria – Este ano surgiram as FUZZ SESSIONS. Qual a ideia por trás das FUZZ SESSIONS?
Casper Dee – No mundo digital de hoje, é fácil perdermo-nos a editar e eu quis voltar ao básico. Gravar directo na fita sem overdubs. Põe um pouco de pressão na banda mas pode fazer a diferença e faz de certeza nas FUZZ SESSIONS. A qualidade de som é espantosa. Pensava que a diferença entre o digital e o analógico não se notaria, mas notasse bastante. Adoro estar no estúdio com as bandas a gravar. Com toda aquela aparelhagem analógica, o cheiro da fita! Então pelas sessões é bom partilhar esta experiência com os nossos amigos cromos por aí espalhados.
Isabel Maria – Quem são os vossos modelos na industria da música?
Casper Dee – Não tenho modelos a industria musical. Parece que todos os que têm potencial para o serem ou estão falidos ou estão mortos. Até a industria está meio morta.
Isabel Maria – Tem planos para o futuro?
Casper Dee – Teremos um novo sitio na net e estou muito excitado com isso. Com o novo sitio poderemos focar-nos mais no nosso blog e o site será um sitio onde as pessoas poderão encontrar tudo o que está a acontecer.
Não páro de me surpreender a quantidade de boas bandas que existem e continuam a surgir. Parece que as bandas estão a melhorar cada vez mais então há que continuar a documentá-las e promovê-las o mais possível, na esperança de que as pessoas continuem a comprar aquilo que editamos. Aí serei feliz!
Este ano os Asimov voltam a pisar os palcos do Reverence. Podia ser apenas e tão somente para apresentar o seu mais recente registo Truth,
ou para mostrar as novas roupagens de outras músicas mais antigas
porque agora ao duo composto por João Arsénio na bateria e Carlos
Ferreira na guitarra e na voz, se juntou Rodrigo Vaz no baixo. Mas vai
ser algo mais que isso. Aos Asimov em formato trio, juntam-se os Hidden Circus.
Junta-se o guitarrista Pedro Madeira, que já colaborou anteriormente
com os Asimov e que já conhece o Carlos Ferreira de outros carnavais
musicais. Inusitado e a adensar a surpresa trarão com eles a
violoncelista Joana Guerra.
Fomos falar com os Asimov num momento
cheio de surpresas e à beira de encetarem a sua primeira saída de
Portugal, numa série de datas a acontecer logo a seguir ao Reverence,
por terras de Espanha.
Estivemos no cimo da Alameda à conversa
com quase todos, num destes fins de tarde quentes e abafados. Sobre o
inicio de tudo, as mudanças e o futuro. Os Asimov sabem bem quem são e
apesar de não terem planos traçados a régua e esquadro tem construido
habilmente e de forma coerente o seu caminho, sem nunca se esquecerem
que o que andam a fazer é na verdade o que mais gostam. Aproveitámos
para conhecer pelas palavras dos intervenientes directos como tudo
começou, mudou e vai continuar.
Isabel Maria – Como é que surgiram os Asimov?
Carlos Ferreira – Os Asimov eram uma
espécie de … bem as primeiras gravações de Asimov são de 2002 talvez…
uma coisa que eu fazia mais ou menos a solo, músicas que não se
enquadravam bem nas bandas em que tocava naquela altura como Brainwashed
by Amalia.
Em 2010, 2011 mais ou menos tinha
material suficiente para gravar um álbum e com a ajuda de um outro amigo
nosso na bateria o André Silva, gravei. Quando tinha tudo gravado o
João ligou-me, ele era de Dollar Lama e queria voltar a tocar, eles
tiveram um hiato, e ele ligou me “ Olha queria voltar a tocar bateria
com alguém e das pessoas todas que conheço era contigo que gostava de
experimentar!” – “Calha mesmo a jeito porque tenho isto gravado e não
tenho ninguém com quem tocar!”. Este amigo com quem gravei o álbum, o
André, a ideia era “Desenrasco-te isso mas não faço parte”, foi uma
espécie de músico de estúdio.
O João ouviu o que estava gravado,
gostou e entretanto já tinha mais umas ideias e a partir daí começou a
rolar tudo, de há mais ou menos seis anos para cá. Nesse ano demos o
primeiro concerto a abrir para Pink MountainTops, a banda paralela do
Stephen McBean de Black Mountain.
Temos agora o Rodrigo no baixo,
finalmente temos mais um membro connosco, porque a ideia de sermos um
duo foi um bocado acidental, não foi uma coisa planeada nem pensada: “Ah
vamos ser só um duo!”
A nossa ideia era mesmo arranjarmos
alguém que sentíssemos que se enquadrava bem no espírito da música que
estávamos a fazer, no nosso mundo, aí sim inseríamos alguém mais. E seis
anos depois aparece o Rodrigo.
Isabel Maria– Quais foram as maiores diferenças que surgiram na gravação deste segundo disco?
Carlos Ferreira – O Overseas foi uma
bocado mais clássico, aquilo surgiu tudo sem pensar muito, depois para o
Truth pensámos em arranjos e onde é que aquilo iria dar.
Começamos sempre por fazer uma jam nos
ensaios para aquecer, todas ou quase todas as músicas que surgiram
apareceram quase sempre nessas géneses iniciais de ensaio, numa cena de
jam livre mesmo, “ah este riff é fixe, ou isto parece-me bem, ou como é
que vamos daqui para aqui?” E a partir daí começamos a limar um bocado o
processo.
Outra coisa que também aconteceu é que
há mais ou menos dois anos quando começámos a tocar as músicas ao vivo, e
a inseri-las com as outras, para vermos se aquilo funcionava bem ou
funcionava melhor de outra forma.
Quando fomos gravar, foi um processo de
gravação curioso. Gravámos uma música por semana porque temos trabalhos e
horários limitados, entre Outubro e Dezembro de 2015, fomos gravando e
fomo-nos surpreendendo a nós próprios. Talvez o facto de termos já isto
tudo tocado ao vivo, ao gravar, gravámos a base muito facilmente. A
base era tão completa que foi só compor o resto. Acho que foi essa a
maior diferença.
Isabel Maria– Tem bandcamp, como é a vossa venda lá para fora?
Carlos Ferreira – Aparecem uns downlads
de vez em quando, nada de significativo, de vez em quando lá aparece
mais um. Quando saiu o álbum houve um bocado mais, agora como saiu o
álbum em vinil com uma editora espanhola acaba por haver um novo foco
de interesse no ultimo álbum e houve mais umas coisas mas nada de
significativo.
João Arsénio – É mais para estar disponível para se alguém quiser ouvir.
Carlos Ferreira – Mesmo o nome da página acaba por não ser o mais acessível do mundo, não é algo a que liguemos muito.
Isabel Maria– Dá para fazer algumas medições ou achas que não corresponde à realidade do que está disponível
Carlos Ferreira – Mais ou menos, mas
mesmo o primeiro álbum ainda dá para encontrar lá fora de forma
relativamente fácil, os dois primeiros editámos nós, em edição de autor,
private pressing e há uma distribuidora sueca que ainda tem o primeiro e
há uma distribuidora holandesa que tem o segundo. O Truth é a editora
que está a tratar dessas coisas todas pelo que nem nos preocupamos com
isso.
Isabel Maria– É bom retirar esse peso e não terem de se preocupar com todos esses pormenores?
Carlos Ferreira – É claro que é, porque
nós somos músicos. O nosso papel é tocar não é estar preocupados com a
parte da gerência da banda, temos um agente para os concertos que é o
Jonas Gonçalves da Ya Ya Yeah. Mas qualquer pessoa que nos contacte a
nós, passamos a ele e acabamos por funcionar todos em equipa. Acho que o
que nós fazemos é trabalhar em equipa com quem ganhamos confiança, como
uma mini família. A cena comercial no sentido de vendas, pensar nesses
pormenores…não pensamos muito nisso.
Isabel Maria – Não estão centrados especificamente em vender?
Carlos Ferreira – Não, claro que
estamos, senão estávamos só a tocar para nós e para os amigos, nós temos
esse objetivo de haver produto e para ser vendido , mas não é isso que
nos move, ou que nos preocupa realmente. Ou o que é que as pessoas vão
pensar ou o que é que vai funcionar com o público ou não. É um pouco,
nós fazemos isto e está aqui disponível e então não estamos muito
preocupados em grandes concessões ou se vai em teoria vender ou não, a
música não é uma coisa que se venda dessa maneira pelo menos para nós.
Quem ouve a nossa música vai perceber aquela ideia, de que é autêntica.
Óbvio que queremos exposição, mas não nos preocupamos muito com isso.
João Arsénio – Preocupamo-nos mas não é o
nosso motor, o nosso motor é fazer música. Um bocado na ideia do que é
que é música que nós gostaríamos mesmo que fosse outra pessoa a fazer,
não vamos estar a pensar se vai soar assim ou assado.
Carlos Ferreira – Ou vamos fazer como
aquele ou o outro porque nos inserimos demasiado numa cena musical, nós
fazemos um bocado aquilo que gostamos mesmo de fazer e às vezes gostamos
muito da ideia de “não era fixe haver um álbum que tivesse uma música
assim?”, uma coisa que o João diz muito em relação ao Truth: “Eu
comprava este álbum”. Acaba por nos apanhar meio desprevenidos, a
maneira como saiu o álbum não estávamos bem à espera. O facto de não
termos expectativas para cumprir, e assim fazemos as coisa de um modo
mais natural talvez, sem forçar nada de propósito só porque tem de ser.
Isabel Maria – Rodrigo, como é se deu a tua entrada nos Asimov?
Rodrigo Vaz – Eu acho que os Asimov
estavam bem como um duo mas precisavam de alguma coisa ou outro input
diferente, não que eles estivessem a fazer coisas erradas. Eu já ouvia o
que eles fazem há alguns anos e sempre gostei muito. Comecei por me dar
com o Carlos e com o João, e na minha perspetiva eu achei que eles
precisavam de uma coisa, de um impulso, ter um baixo, ou outro
instrumento qualquer. Tenho uma perspetiva parecida, não pensamos todos
igual mas de formas parecidas e acho que ter um baixo complementou o som
dos Asimov, outra forma de compor, outra forma de trabalhar e fazer
música.
Isabel Maria– Como foi passar de um diálogo apenas a dois, para esta nova «situação»?
João Arsénio – Nós já queríamos isto
há algum tempo mas nunca se tinha proporcionado, veio dar-nos mais vida,
outra força e mesmo um novo caminho e estamos a gostar imenso do que
estamos a fazer com o Rodrigo.
Carlos Ferreira – Até certo ponto
estamos a reaprender a nossa música, porque estávamos tão habituados a
fazer a coisa a dois. Cabia a nós dois fazer funcionar tudo ao vivo, e
não tendo ainda chegado ao limite do que conseguíamos fazer a dois,
podemos agora fazer outras coisas também. Mais como nos álbuns. Os
álbuns já tem baixo, é daquelas coisas que as pessoas não se apercebem,
mas eu gravava o baixo e não só. O álbum tem mais do que parece na
realidade. Parece muito cru muito sujo mas aquilo tem mais pormenores do
que a primeira audição revela. Nós não fazemos ao contrário do que
muita gente pensa, takes directos. Gravamos os álbuns, somos nós que
fazemos tudo mas não é preciso ser só como no duo. E assim acrescentamos
mais coisas, mas que depois não podemos tocar ao vivo porque não
funciona.
Isabel Maria – Mas mesmo assim não deixaram de as fazer.
Carlos Ferreira– Claro que não. Há
coisas que por vezes nós chegamos a um ponto e aquilo parece vazio, e
pomos de parte, naquela de “um dia logo vemos o que é que acontece” e
como dissemos estamos a reaprender a tocar as músicas, porque há coisas
que eu agora não tenho de fazer na guitarra, não tenho de encher tanto o
som, há o baixo como base, eu posso até fazer mais base para depois o
João poder viajar mais com o Rodrigo, ficarem os dois um bocado mais
livres.
Isabel Maria – Vocês já estiveram no
Reverence em 2014, já sabem o que é que o público está à espera mas este
ano vão fazer algo mais. Podem desvendar ou ainda é segredo?
Carlos Ferreira – Nós já desvendámos um
pouco em Maio na Feira Morta. Já temos algumas coisas a meio caminho.
Nós estamos a compor o que será o próximo álbum, temos o calendário mais
ou menos pensado na nossa cabeça, mais ou menos aquilo que tem de ser
mesmo feito e temos já algumas músicas novas com mais elementos, temos o
Pedro Madeira na segunda guitarra e a Joana Guerra que é violoncelista.
Vamos mostrar músicas novas, algumas das que tocámos na Feira Morta em
Maio.
Isabel Maria– Como é que surgiu a parceria entre Hidden Circus e Asimov?
Pedro Madeira – Nós somos todos do
Cacém, com excepção da Joana que é de Rio de Mouro e eu toco com o
Carlos, on e off há muito tempo. Tínhamos os Brainwashed by Amalia e eu
toquei com ele nessa altura. Depois tivémos um duo que se chamava
Mamute. Entretanto eu estive uns anos fora, em Espanha a fazer outras
coisas e estivemos uns anos sem tocar juntos, mas esses anos foram
excepção, porque há muitos anos que temos vindo sempre a colaborar
juntos. Além disso, tenho feito umas coisas com guitarra acústica
sozinho, sob o nome de Peter Wood, sendo que a primeira pessoa que ouviu
e gravou isso foi o Carlos. As coisas vão acontecendo e um dia
aconteceu e é um orgulho tocar com eles, dar uma ajudinha, que é isso
que eu estou a fazer, dar uma ajudinha.
Isabel Maria – Se pudessem viajar no tempo, com quem gostariam de tocar ou partilhar o palco?
João Arsénio – Tanta gente, mas Neil
Young. Tenho muito respeito pela pessoa dele, pela carreira dele. Acho
que é um deus do Rock
Rodrigo Vaz – Hey, essa era a minha resposta!
Carlos Ferreira – 2-0 para o Neill
Young! (Risos) Essa questão é um bocado curiosa, porque há algum tempo
estava a pensar na ideia do tempo, “Ah se isto fosse os anos 70 é que
era”…mas na verdade eu acho que isso é uma falsa questão, estamos a
viver é agora. Acho que no fundo tudo ia ser um bocado a mesma coisa.
Isabel Maria – Então e se tirássemos da questão a viagem no tempo? Com quem gostarias de partilhar o palco?
Carlos Ferreira – Mudhoney, que é uma
banda que respeito bastante, a banda que mais respeito que ainda existe.
Uma banda que fez as coisas à sua maneira. Não creio que seja sorte,
nestas coisas existem oportunidades e ou as aproveitas ou não. Há que
criá-las e aproveitá-las. E é uma banda com a qual ainda hoje me
identifico, mesmo a própria gestão da banda. Eles também tem empregos
como nós. Estive a ler o livro sobre eles, e eles estão limitados para
tudo pelos horários do baixista que é enfermeiro. O primeiro baixista
tinha saído para se tornar marceneiro, deixou mesmo a música, fartou-se.
Acho que eles gerem aquilo tudo à volta do baixista. Uma semana de
férias com a família e o resto é para gravações e tours. Acho que é uma
banda que tem os pés bem assentes na terra, algo com que nos
identificamos.
João Arsénio – São fieis com eles próprios, são coerentes nas escolhas que fazem.
Carlos Ferreira – Se eles viessem cá e
nós pudéssemos fazer a primeira parte, acho que ficava contente só de
tocar um acorde. Ok, já toquei, podem tocar os Mudhoney!!!
Rodrigo Vaz – Eu ia responder Neil
Young, mas o João já respondeu, por isso seriam os Rush. É uma banda que
admiro muito e por mais anos que passem, por mais coisas que oiça eu
vou sempre lá parar outra vez, aos Rush. Foram das primeiras bandas que
senti mesmo. Mais pelas letras. Quando ouvi pensei; “Eh lá, afinal não
estou sozinho!” Por mais anos que viva vou sempre lá dar.
Pedro Madeira – Isso é sempre difícil. Como o Carlos diz, a cena do antigamente é que era bom..isso não é bem assim!
Isabel Maria– Não te sintas limitado
pela questão do tempo, no fundo a viagem no tempo serve apenas para
poderes escolher quem quer que seja. Passado, presente ou futuro!
Pedro Madeira – Ah não te preocupes que
isto era só estilo, eu não me perdi! (Risos) Mas já que o que me
interessa é o presente eu gostava de tocar com uma banda com a qual eles
já tocaram, com os Bardo Pond que ainda andam aí. Ainda mexem e
profissionalmente não devem de ser um caso muito diferente dos Mudhoney.
Os Asimov já tiveram a sorte de tocar imediatamente antes dos Bardo
Pond no primeiro Reverence. E eu acho que não foi uma coincidência, acho
que foi alinhamento cósmico e pode ser que eu ainda tenha essa sorte.
Isabel Maria– O que é que andam a ouvir
actualmente? O que é que ouvem no carro, no leitor mp3 ou no telemóvel,
ou tem no gira-discos ou no leitor de CD’s?
Carlos Ferreira – Neil Young, Bardo
Pond, Mudhoney e Rush!! (Risos) Ainda hoje de manha estava a ouvir uma
banda chamada Spirit of Jonh Morgan, uma cena obscura dos anos 70. eu
vou sempre dar um bocado ao mesmo sitio…bandas semi-obscuras dos anos 60
e 70, que tem ali uma coisa qualquer meio fora…
João Arsénio – A última coisa que ouvi,
pode parecer um bocado estranho mas ontem estava a ouvir Carlos Paredes e
estava a gostar bastante.
Rodrigo Vaz – Eu ouvi The Clash, tenho ouvido bastante Kadavar…Rush. Neil Young.
Pedro Madeira – Eu esta semana tenho
ouvido Stevie Wonder e ando outra vez a ouvir os Canned Heat que são a
melhor banda do mundo e que é uma banda a que vou sempre voltando…
Isabel Maria – Vai acontecer um registo oficial desta colaboração dos Asimov com os Hidden Circus?
Carlos Ferreira – Sim, mas depende um
bocado dos horários… com os Hidden Circus isto é um bocado a banda
completa, mas há a questão dos horários e resolvemos fazer isto e
juntar-nos quando vale mesmo pena. Fizemo-lo em Maio e depois alinhámos
todos os nossos calendários para o Reverence. A Joana não está hoje, só
volta para os ensaios mais perto do Reverence. Estamos já a gravar aos
poucos mas é um bocado ver quem está disponível e quando para gravar
O Pedro vai agora para fora 4 meses a
seguir ao Reverence, e quando ele voltar, grava também. E vamos ver o
que é que vai dar. Depende um bocado do que é possível fazer ou não com
os pés assentes na terra. Pesar bem o que é possível e se vale a pena,
se dá tudo bem, se não dá fica para a próxima.
Pedro Madeira – Se der para meter um solo de harmónica, dá. Se não der não se mete!
Carlos Ferreira – O Pedro já tem um solo de harmónica no segundo álbum. Não está creditado mas ….está lá na primeira música.
Pedro Madeira – Devia de ser em todos!
Carlos Ferreira – Aliás eu acho que devíamos fazer um álbum todo; Asimov em Harmónica!
Isabel Maria – Vão tocar no Reverence, mas também vão ficar para ver algumas bandas! O que é que querem mesmo não perder no Reverence?
João Arsénio – Hills!
Rodrigo Vaz – Hills!
Carlos Ferreira – Hills! E os Träd Gräs
Och Stenar…Mas aqui como noutros festivais a parte divertida da coisa
acaba por ser deixares-te apanhar pela situação de não conheceres as
bandas e seres surpreendido. A ideia para mim é depois ir explorar. Como
há dois anos os Dewollf, que estávamos a ouvir ao longe e depois acabei
por explorar um bocado porque o concerto me chamou a atenção.
Pedro Madeira – Os Hills e os Träd Gräs
Och Stenar também, mas no fundo é uma oportunidade para conhecer coisas
novas, eu não oiço muitas coisas novas por isso…
Isabel Maria – Umas palavras sobre este que não é oficialmente a vossa ocupação principal, a música, mas que na verdade acaba por ser.
João Arsénio – Para mim a música é sentir-me vivo, é o que me faz andar para a frente em muitas situações da minha vida. É amor.
Carlos Ferreira – Um bocado um escape também!
João Arsénio – Também um escape, sim.
Carlos Ferreira – Ás vezes eu não me
sinto muito à vontade. Enquadro-me bem na sociedade mas não sou
necessariamente a pessoa que melhor se enquadra. É um pouco “Ok, pode
ser, estão a falar de isto ou daquilo ou de futebol ou do trabalho e
tudo bem, pode ser, só sabem falar disso? Não há problema!” Eu dou-me
convosco e percebo a vossa perspectiva, mas depois tenho um bocado na
ideia fazer a minha cena….ou fazer com que um pouco de mim saia cá para
fora sem que tenha de dar satisfações a ninguém.
Rodrigo Vaz – A música não é nossa
actividade principal mas é o que dá sentido a tudo o resto. É o meu
grande escape da vida e como o Carlos disse, também não sou nem de perto
a pessoa que se enquadra melhor nisto tudo e acaba por ser um escape.
Pedro Madeira – Eu subscrevo tudo…a
música é uma coisa excelente, e o melhor é mesmo podermos estar uns com
os outros e trabalhar, mas sem ser trabalho e acho que isso é divertido.
A edição de 2017 do Reverence
está quase aí. Este ano sujeita a uma mudança de local, de Valada para
Santarém, traz consigo um manancial de bandas nacionais e internacionais
com um espectro talvez um pouco mais abrangente dentro dos géneros
musicais a que se haviam dedicado quase exclusivamente as três
anteriores edições.
Os alemães Desert Mountain Tribe estão entre as confirmações de sexta-feira dia 8 de Setembro. Nascidos
das cinzas dos promissores Young Men Dead, Philipp, Felix e Jonty
construíram desde o seu início um percurso irrepreensível.
Aproveitámos o regresso do
trio após terem estado em Lisboa em 2015 para trocar algumas impressões e
conhecer um pouco melhor o percurso e as ideias da banda que lançou no
passado mês de Abril o EP If You Don’t Know Can You Don’t Know Köln.
Isabel Maria – Podem apresentar aos nossos leitores os Desert Mountain Tribe e falar-nos um pouco do vosso percurso?
Desert
Mountain Tribe – Nós neste momento estamos a aproveitar o verão inglês. O
Philipp e o Felix são irmãos e conheceram o Jonty através da nossa
anterior banda os Young Men Dead. O guitarrista de Young Men Dead, o
Andrew, lembrou-se que tinha ouvido o Jonty cantar numa festa qualquer e
perguntou se ele gostaria de se juntar à banda. Depois do fim dos Young
Men Dead formámos os Desert Mountain Tribe e cá estamos nós. As
ambições ou planos que tínhamos quando começámos mantém-se mais ou menos
as mesmas; criar música que queiramos ouvir e que nós gostássemos de
ver ao vivo.
Isabel Maria – Existe alguma história por detrás do nome da vossa banda?
Desert Mountain Tribe – Não….Nem por isso, quer dizer, pelo menos nenhuma que possamos partilhar aqui…
Isabel Maria – Como é que funciona o vosso processo de criação?
Desert
Mountain Tribe – Nós nunca vamos para estúdio a dizer a dizer:”Ah estou
inspiradíssimo por causa disto ou daquilo! Vamos escrever uma música
sobre isto!
Isabel Maria – Durante este tempo quais foram os maiores desafios que os Desert Mountain Tribe enfrentaram?
Desert
Mountain Tribe – Acho que o maior desafio é mesmo o tempo que andamos em
tour. Por vezes,porque já andamos em tour há várias semanas ou há
vários meses e por vezes acontecem uma série de concertos menos bons,
porque foram mal organizados ou porque aparecem menos pessoas. Isso pode
enervar-nos muito e deitar abaixo a nossa moral. Mas nós adoramos andar
na estrada e dar concertos e os bons concertos superam completamente os
menos bons.
Isabel Maria–
Gostaríamos de vos felicitar pelo vosso novo EP If You Don’t Know Can
You Don’t Know Köln que saiu em Abril deste ano. Porquê este nome?
Desert
Mountain Tribe – Como dois terços da banda são naturais de Colónia nós
temos uma ligação naturalmente muito forte com a cidade. A nossa maior
influência musical de Colónia são os Can. Infelizmente a maioria dos
miúdos de hoje nem sequer ouviu falar deles e a cena musical de Colónia
está sobretudo associada à cena techno, que também é fantástica. O nome
do disco partiu mais ou menos desta ideia. Basicamente é uma homenagem à
nossa cidade natal.
Isabel Maria– Podemos esperar outro lançamento para breve?
Desert
Mountain Tribe – Sim! Acabámos de gravar o nosso segundo disco. Ainda
não temos data de lançamento mas estamos em crer que acontecerá no
início do próximo ano.
Isabel Maria – Como encaram as mudanças que a internet trouxe ao mundo da música?
Desert
Mountain Tribe – Creio que a internet trouxe uma certa força aos músicos
mais independentes. Já não precisas de uma editora para lançar um
disco, ou pagar um estúdio caríssimo pois consegues tecnicamente gravar
um disco a partir do teu quarto. Podes usar os media e as redes sociais
para promover o disco e muitas bandas tem sido bem-sucedidas a
fazerem-no desta forma. No entanto, isto também faz com que se torne
mais difícil sobressair pois a quantidade de bandas e lançamentos
aumentou imenso nos últimos 15 anos. Obviamente isto significa que é
muito mais difícil para uma banda subsistir ou viver apenas da música o
que leva a que muitos músicos tenham outros trabalhos para poderem pagar
as suas contas.
Isabel Maria – A música é a vossa principal ocupação ou tem outros trabalhos ou hobbies?
Desert
Mountain Tribe – A música é a nossa principal ocupação mas todos nós
temos outras coisas para poder subsistir e pagar as contas.
Isabel Maria – Que bandas ou músicos mais vos influenciaram?
Desert
Mountain Tribe – No início fomos muito influenciados por muitas bandas
como os Dead Skeletons, Brian Jonestown Massacre, Black Angels, BRMC ou
Stone Roses…
Ainda os adoramos a todos mas os nossos gostos pessoais mudaram ou divergiram um pouco desde então.
Isabel Maria – Quais sãos os vossos “guilty pleasures” musicais?
Desert Mountain Tribe – Prince e Falco!
Isabel Maria– Qual foi o concerto mais memorável que deram até ao momento?
Desert
Mountain Tribe – É muito difícil escolher um concerto em especial. O
nosso ultimo concerto no Festival Zamba Loca, na Suíça, foi muito
especial para nós. Na verdade todos os nossos concertos no leste da
Europa tem sido fantásticos porque temos muita gente a ouvir a nossa
musica e tem sido muito acolhedores e hospitaleiros para nós. E é claro
que sempre que tocamos em Colónia é muito excitante ver todos os nossos
amigos no meio do publico!!
Isabel Maria – Já conheciam ou tinham ouvido falar do Reverence antes de terem sido convidados para actuar?
Desert
Mountain Tribe – Sim, já tínhamos ouvido falar bastante do Reverence!!
Muitos amigos de outras bandas e também amigos de Londres que já cá
estiveram. Todos nos disseram o quão fantástica e única foi a
experiência, por isso estamos ansiosos por ver tudo!
Isabel Maria – Conhecem algumas das bandas que vão estar presentes… Quais nos aconselhariam a não perder?
Desert
Mountain Tribe – Claro!! Conhecemos e somos amigos do grupo todo da Fuzz
Club ( 10000 Russos, Dead Rabbits, Pretty Lightning, Throw Down Bones,
The Underground Youth, etc). Por isso e porque sabemos o que valem
aconselhamos a vê-los a todos. E também os nossos colegas de editora os
Gang of Four!!! Nunca os vimos ao vivo mas estamos ansiosos!!
Isabel Maria – Quais as bandas no cartaz do Reverence que vos suscitam mais curiosidade?
Desert Mountain Tribe – Das bandas que ainda não vimos, provavelmente Mono e Gang of Four!
Isabel Maria – Qual foi a última canção que ouviram?
Desert Mountain Tribe – Na rádio acabou de passar Myléne Farmer ~ Libertine! Uma música fantástica!
Os Mono formaram-se em
1999. Possuidores de uma música que contém fortes elementos de um
post-rock bastante negro e pesado na maioria das vezes, carregado de
ideias e emoções densas e marcantes, editaram este ano o seu nono álbum e
voltaram a colaborar com Steve Albini com quem já haviam colaborado
anteriormente.
Vão estar presentes no Reverence Santarém no dia 9 de Setembro para aquele se adivinha como um dos grandes concertos deste ano.
Isabel Maria – Os Mono
andam em tour e a gravar discos há cerca de 18 anos. Quando é que se
aperceberam que eram ouvidos em todo o mundo?
Mono – Fizemos a nossa primeira tour nos
Estados Unidos. Tocámos em sítios lendários como CBGB…. E continuámos a
tocar sempre atrás do que havíamos idealizado. A nossa música
espalhou-se boca a boca, mas só notámos que se havia chegado tão longe
por volta de 2003.
Isabel Maria – A vossa maneira de fazer as coisas mudou depois de se terem apercebido disso?
Mono – Antes de 2003 estivemos sempre à
procura do nosso lugar, do nosso espaço. Continuávamos a tocar para
audiência de 5 a 30 pessoas, e porque éramos muito jovens por vezes
ficávamos chateados, assustados e mesmo zangados, partimos muitas
guitarras e amplificadores e mesmo baterias muitas vezes. O dia que
mudou tudo estávamos a dar um concerto em Austin no Texas. Uma
inacreditável quantidade de gente tinha aparecido para o nosso concerto,
e no fim toda a gente ergueu as mãos e saudou-nos.
Essa foi a primeira vez que sentimos que
tínhamos partilhado qualquer coisa de forma apropriada com o público
nos Estados unidos. A música Halcyon (Beautifull Days) do nosso terceiro
álbum Walking Cloud é exactamente sobre esse dia.
Depois de termos terminado o álbum,
decidimos fazer do nosso terceiro álbum um presente para o mundo por nos
ter dado este lugar e também a esperança na paz no mundo, até porque
isto aconteceu pouco depois do 9/11. Quisemos continuar a contribuir e a
partilhar como japoneses, por isso é que no design do álbum incluímos
as formas de dobragem.
Isabel Maria – Porquê o nome Mono?
Mono – Porque em muitos países, culturas, idiomas e mesmo através da história significa UM.
Isabel Maria – Requiem From Hell traz de
volta um colaborador de longa data, Steve Albini. Li no vosso site que
vos pareceu a todos que voltar a esta colaboração seria voltar a um
sitio onde foram felizes. Podes falar-nos um pouco sobre a vossa
colaboração?
Mono – Neste álbum o que queríamos mesmo
deixar para trás o nosso som como o de uma banda que toca junta há 17
anos. Comecei por idealizar qualquer coisa simples e orgânica, sem
elementos desnecessários, e deixar a química entre nós os 4 fluir até se
transformar no nosso nono álbum.
A partir dessas sensações voltou a
vontade de gravar com Steve Albini outra vez. A última vez que gravamos
com ele foi em 2007 o Hymn To The Immortal Wind.
As sessões de gravação começaram em
Março deste ano, na Electric Audio em Chicago que é o estúdio do Steve.
Como de todas as outras vezes gravámos uma sessão ao vivo os quatro. As
formas tradicionais de gravar podem ser a forma mais difícil de o fazer
mas se tudo correr como planeado, nós poderemos conseguir uma conquista
milagrosa, portanto, escolhemos fazê-lo sempre desta forma.
Optamos sempre por usar fitas analógica
para gravar, porque assim podemos entregar cada grito das nossas almas,
que é algo que simplesmente não cabe em formatos digitais. O Steve
Albini é um mago no que toca a gravações analógicas. Sem qualquer
dúvida. Ele consegue captar tudo perfeitamente desde o nosso cabelo a
esvoaçar, às nossas emoções, sentimentos e até a nossa comunicação sem
palavras enquanto tocamos. Achamos mesmo que ele é o melhor a fazer
isto.
E mesmo tendo passado tanto tempo eu relembrei-me que ele é a pessoa que melhor percebe a música outra vez.
Isabel Maria– Ao longo de todo este tempo quais foram os maiores desafios que tiveram de ultrapassar?
Mono – Andámos sempre para trás e para a
frente, a desconstruir e a reconstruir coisas que continuam a mudar e
não deviam de mudar. Naquela altura todos nós sentimos que queríamos
aprofundar a nossa agressividade ao invés de nos tornarmos mais suaves à
medida que amadurecíamos.
Isabel Maria– Como é que sentiram todas as mudanças que a internet trouxe ao mundo da música?
Mono – Nós fizemos tours de forma muito
intensa muito antes de a internet ser amplamente utilizada. Todos os
anos fazemos meio ano de tour e assim experimentamos e partilhamo-nos
directamente com os nosso fãs, e talvez por isso não nos preocupa muito a
forma como a internet afectou a cena musical no geral. Não interessa, a
verdade é que não se consegue oferecer a mesma experiência a quem te
ouve na internet. Não se conseguem ouvir coisas como o som do cabelo a
cortar o ar ou mesmo as emoções do momento.
Isabel Maria– Que bandas mais vos influenciaram no inicio?
Mono – Falo por mim apenas, mas, My
Bloody Valentine, Low, Loren Conners e Beethoven. Ainda gosto de todos
incondicionalmente como antes. Todos eles são originais e é impossível
cansarem-me.
Isabel Maria – O que andam a ouvir por estes dias?
Mono – Oiço sobretudo bandas sonoras de filmes. Ben Frost, Max Richer e Nills Frahm também são fantásticos.
Isabel Maria – Conhecem algumas bandas portuguesas?
Mono – Conheço Sinistro porque andámos em tour com eles na Europa. São uma banda bastante pesada e bonita.
Isabel Maria– Estiveram em tour pela América do Norte esta Primavera. Como correu?
Mono – Andámos na estrada com algumas
das nossas bandas favoritas como os Sleep e os Low, e também os
Deafheaven. Todos bandas fantásticas e que nos inspiraram muito. Todos
os concertos foram pacificos com públicos muito respeitadores. Foi uma
belíssima jornada musical.