Os Mono formaram-se em
1999. Possuidores de uma música que contém fortes elementos de um
post-rock bastante negro e pesado na maioria das vezes, carregado de
ideias e emoções densas e marcantes, editaram este ano o seu nono álbum e
voltaram a colaborar com Steve Albini com quem já haviam colaborado
anteriormente.
Vão estar presentes no Reverence Santarém no dia 9 de Setembro para aquele se adivinha como um dos grandes concertos deste ano.
Isabel Maria – Os Mono
andam em tour e a gravar discos há cerca de 18 anos. Quando é que se
aperceberam que eram ouvidos em todo o mundo?
Mono – Fizemos a nossa primeira tour nos
Estados Unidos. Tocámos em sítios lendários como CBGB…. E continuámos a
tocar sempre atrás do que havíamos idealizado. A nossa música
espalhou-se boca a boca, mas só notámos que se havia chegado tão longe
por volta de 2003.
Isabel Maria – A vossa maneira de fazer as coisas mudou depois de se terem apercebido disso?
Mono – Antes de 2003 estivemos sempre à
procura do nosso lugar, do nosso espaço. Continuávamos a tocar para
audiência de 5 a 30 pessoas, e porque éramos muito jovens por vezes
ficávamos chateados, assustados e mesmo zangados, partimos muitas
guitarras e amplificadores e mesmo baterias muitas vezes. O dia que
mudou tudo estávamos a dar um concerto em Austin no Texas. Uma
inacreditável quantidade de gente tinha aparecido para o nosso concerto,
e no fim toda a gente ergueu as mãos e saudou-nos.
Essa foi a primeira vez que sentimos que
tínhamos partilhado qualquer coisa de forma apropriada com o público
nos Estados unidos. A música Halcyon (Beautifull Days) do nosso terceiro
álbum Walking Cloud é exactamente sobre esse dia.
Depois de termos terminado o álbum,
decidimos fazer do nosso terceiro álbum um presente para o mundo por nos
ter dado este lugar e também a esperança na paz no mundo, até porque
isto aconteceu pouco depois do 9/11. Quisemos continuar a contribuir e a
partilhar como japoneses, por isso é que no design do álbum incluímos
as formas de dobragem.
Isabel Maria – Porquê o nome Mono?
Mono – Porque em muitos países, culturas, idiomas e mesmo através da história significa UM.
Isabel Maria – Requiem From Hell traz de
volta um colaborador de longa data, Steve Albini. Li no vosso site que
vos pareceu a todos que voltar a esta colaboração seria voltar a um
sitio onde foram felizes. Podes falar-nos um pouco sobre a vossa
colaboração?
Mono – Neste álbum o que queríamos mesmo
deixar para trás o nosso som como o de uma banda que toca junta há 17
anos. Comecei por idealizar qualquer coisa simples e orgânica, sem
elementos desnecessários, e deixar a química entre nós os 4 fluir até se
transformar no nosso nono álbum.
A partir dessas sensações voltou a
vontade de gravar com Steve Albini outra vez. A última vez que gravamos
com ele foi em 2007 o Hymn To The Immortal Wind.
As sessões de gravação começaram em
Março deste ano, na Electric Audio em Chicago que é o estúdio do Steve.
Como de todas as outras vezes gravámos uma sessão ao vivo os quatro. As
formas tradicionais de gravar podem ser a forma mais difícil de o fazer
mas se tudo correr como planeado, nós poderemos conseguir uma conquista
milagrosa, portanto, escolhemos fazê-lo sempre desta forma.
Optamos sempre por usar fitas analógica
para gravar, porque assim podemos entregar cada grito das nossas almas,
que é algo que simplesmente não cabe em formatos digitais. O Steve
Albini é um mago no que toca a gravações analógicas. Sem qualquer
dúvida. Ele consegue captar tudo perfeitamente desde o nosso cabelo a
esvoaçar, às nossas emoções, sentimentos e até a nossa comunicação sem
palavras enquanto tocamos. Achamos mesmo que ele é o melhor a fazer
isto.
E mesmo tendo passado tanto tempo eu relembrei-me que ele é a pessoa que melhor percebe a música outra vez.
Isabel Maria– Ao longo de todo este tempo quais foram os maiores desafios que tiveram de ultrapassar?
Mono – Andámos sempre para trás e para a
frente, a desconstruir e a reconstruir coisas que continuam a mudar e
não deviam de mudar. Naquela altura todos nós sentimos que queríamos
aprofundar a nossa agressividade ao invés de nos tornarmos mais suaves à
medida que amadurecíamos.
Isabel Maria– Como é que sentiram todas as mudanças que a internet trouxe ao mundo da música?
Mono – Nós fizemos tours de forma muito
intensa muito antes de a internet ser amplamente utilizada. Todos os
anos fazemos meio ano de tour e assim experimentamos e partilhamo-nos
directamente com os nosso fãs, e talvez por isso não nos preocupa muito a
forma como a internet afectou a cena musical no geral. Não interessa, a
verdade é que não se consegue oferecer a mesma experiência a quem te
ouve na internet. Não se conseguem ouvir coisas como o som do cabelo a
cortar o ar ou mesmo as emoções do momento.
Isabel Maria– Que bandas mais vos influenciaram no inicio?
Mono – Falo por mim apenas, mas, My
Bloody Valentine, Low, Loren Conners e Beethoven. Ainda gosto de todos
incondicionalmente como antes. Todos eles são originais e é impossível
cansarem-me.
Isabel Maria – O que andam a ouvir por estes dias?
Mono – Oiço sobretudo bandas sonoras de filmes. Ben Frost, Max Richer e Nills Frahm também são fantásticos.
Isabel Maria – Conhecem algumas bandas portuguesas?
Mono – Conheço Sinistro porque andámos em tour com eles na Europa. São uma banda bastante pesada e bonita.
Isabel Maria– Estiveram em tour pela América do Norte esta Primavera. Como correu?
Mono – Andámos na estrada com algumas
das nossas bandas favoritas como os Sleep e os Low, e também os
Deafheaven. Todos bandas fantásticas e que nos inspiraram muito. Todos
os concertos foram pacificos com públicos muito respeitadores. Foi uma
belíssima jornada musical.
Entrevista - Isabel Maria
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