Songs To Nowhere#109#Trendkill Radio#6.09.2021

Sinistro, a arte de sentir

Estivemos à conversa com a Patricia Andrade, vocalista dos Sinistro que vão actuar no Reverence Santarém em 2017. Os Sinistro já existem há algum tempo. Não são propriamente a novidade do momento, mas na verdade são. No seu primeiro registo de 2012, o álbum homónimo, os Sinistro eram três músicos: Rick Chain (guitarrista), Fernando Matias (baixo/produtor) e Paulo Lafaia (baterista) e viveram uma primeira vida completamente instrumental. O Ep Cidade trouxe a vontade de fazer mais e fazer diferente, e Patricia Andrade passou a dar a voz ao caos ordenado  do trio, primeiro a título de convite, mas depois integrando em definitivo o projecto, que pouco depois voltou a crescer e acolheu Ricardo Matias (guitarrista), sendo esta a formação que gravou o segundo disco em 2016 e tem andado em tour nos últimos 18 meses.
Este fim de semana poderemos vê-los ao vivo na madrugada de sexta-feira no Reverence, decerto em todo o seu esplendor cénico e sonoro. Estivemos à conversa com a Patricia Andrade que nos falou um pouco sobre a jornada atípica e feliz dos Sinistro.

Isabel Maria – Como é que os Sinistro surgiram? Sabemos que entraste mais ou menos a meio do percurso e os Sinistro já tinham gravado um primeiro álbum.
Patricia Andrade – Ouvi dizer que eles estavam no estúdio, o Fernando Matias, o Ricardo e o Paulo. Foi qualquer coisa espontânea, tipo vamos começar aqui a fazer uma coisa e a partir dai eles começaram a desenvolver, mas creio que foi bastante espontâneo, salvo erro foi em agosto, e a ideia não era a de ser uma banda para tocar ao vivo, era uma banda apenas para estúdio para lançar discos mas apenas estúdio, com uma certa componente cinematográfica. O primeiro álbum completamente instrumental mas já se entrevem uma certa imagética uns ambientes muito próprios dessa ideia.
Depois o Ep…eu estava na altura com Pedro e os Lobos e o Ricardo foi ver um concerto a Almada e umas semanas mais tarde o Fernando Matias e o Rick encontraram se comigo fomos tomar um café e disseram-me que gostavam que eu participasse no EP. Deram-me total liberdade para eu fazer o que quisesse e eu fiquei bastante agradada com a ideia que para mim era um desafio. Musica pesada ou estar num projecto de musica mais pesada….Já tive alguns projectos mas não dentro deste género mais pesado. Os dois temas já estavam praticamente compostos, entregaram me os temas e eu sobre os temas escrevi e fomos para estúdio. Foi assim também bastante espontâneo.

Isabel Maria – Criaste a tua interpretação da sonoridade deles, deste a voz e as palavras ao que eles haviam composto.
Patricia Andrade – Sim, e escrevi sobre os sítios para onde aquele som me remetia, para que ambiente viajava, e também já achava que era muito cinematográfico, muito ambiental.
Isabel Maria – Continuam a tocar as faixas do primeiro álbum que são instrumentais. Houve mesmo uma nova construção, mas não se dissociaram do que já tinham feito.
Patricia Andrade – No ano passado tocámos uma das faixas e sim permanecem instrumentais. O EP eu ouvi e quando fomos para estúdio e já ia com algumas ideias, algumas ideias de até onde poderia entrar, ou onde é que a voz se poderia encaixar nas partes mais melódicas, respirar nas partes mais densas e pesadas, mas foi muito depois na altura no momento de estúdio que aconteceu e acabou por ser um bocado improviso que é algo que me desafia muito. E eles deram-me muito espaço para isso.
Isabel Maria – Incentivaram-te a criar o teu próprio espaço na banda.
Patricia Andrade – Sem dúvida! E isso para mim foi o mais interessante e o mais desafiante.
Isabel Maria – Qual é a origem do nome?
Patricia Andrade – Pelo que sei, creio que foi quando eles estavam em estúdio quando surgiu a ideia do projecto. Um deles disse “Ah isto é sinistro!”, foi uma palavra que saiu, “ah Sinistro”. Ok Sinistro. Acho que foi assim… eu não estava lá.
Isabel Maria – Ficaram surpreendidos com a receção do público em lá fora?
Patricia Andrade – Já tínhamos feito o concerto no Sabotage em abril do ano passado, que foi o primeiro concerto antes de irmos em tour. Esse foi o primeiro contacto e foi muito impactante porque foi muito caloroso e foi importante para nós porque saímos com uma energia brutal, íamos cheios. De repente estamos a dar o primeiro concerto e está uma sala cheia e vais com uma energia bastante grande para enfrentar tudo.
Isabel Maria – De repente passam de uma situação em que não aparecem ou aparecem esporadicamente para passar a aparecer lá fora, muito mais até do que aqui em Portugal!
Patricia Andrade – Houve momentos muito importantes que impulsionaram isso. O Roadburn que é um festival que já tem um nome muito conceituado, é um cartão de apresentação para as novas bandas e para nós foi completamente surpreendente porque pensámos “Uau vamos ao Roadburn e ninguém nos conhece!..” Estávamos a espera de ter uma sala morninha, mas a sala estava cheia e foi muito emocionante. Foi mesmo emocionante e não estávamos a espera do que aconteceu. Antes do Roadburn ainda fizemos algumas datas com os Cult of Luna o que também fez com que houvesse muitas pessoas curiosas e muitas pessoas que passaram a conhecer-nos através dos Cult of Luna.
Isabel Maria – Como é que surge a tour com os Paradise Lost?
Patricia Andrade – Ficámos logo muito surpreendidos quando saiu o vídeo Relíquia. O vocalista de Paradise Lost, elogiou, e nós até pensámos que era uma brincadeira, e ficámos boquiabertos. É uma referencia dentro desta música, incontornável.

Isabel Maria  – Já tem coisa novas preparadas, músicas ou ideias?
Patricia Andrade – Está fechado. O disco está terminado e contamos que saia no primeiro trimestre de 2018, após esta tourné com Paradise Lost. Esta grande jornada que vamos ter.
Isabel Maria- Quem está por detrás da concepção das vossas capas?
Patricia Andrade – Creio que tem sido tudo obra do Pedro Carmo.
Isabel Maria – A tua performance tem uma componente muito cénica. Mas a própria música mesmo antes de teres entrado nos Sinistro tinha já um tom dramático no sentido de associado ao cinema enquanto arte…assim como as fotos e os vídeos, todos os elementos contam uma história, dentro da música.
Patricia Andrade – Uma vez perguntaram-me “Mas os teus movimentos é tudo ensaiado, como é que ensaias? Treinas e coreografas para o palco?”
Não de todo, aconteceu foi uma coisa espontânea e todos os concertos são diferentes, a primeira saiu-me e eu percebi que era aquele o caminho mas não está pensado. Acontece quase sempre de forma diferente em cada concerto.
Remetendo a ideia da estética dos vídeos e das fotos, as pessoas que colaboraram connosco compreenderam-nos na totalidade. Nos vídeos foi o José Dinis dos Dollar Lama. É importante que as pessoas que trabalham connosco compreendam a nossa linguagem e compreendam o que estás a sentir e o que queres transmitir. As fotos são da Joana que também tem um imaginário muito interessante e consegue dar algum certo ar misterioso e ela também conseguiu perceber o que é que nos queríamos muito embora seja a estética dela. Tratam-se de diálogos e encontros que resultaram muito bem exactamente por isso. As linguagens tocaram-se com o nosso universo mas foi também uma coisa que aconteceu. Nós vamos reunindo isto, como se fossemos fazendo um puzzle, e as peças vão aparecendo e vão encaixando.
Isabel Maria – Quem consideras serem as vossas maiores influências, ou o que é que consideras como referência e que te levou a este sitio onde estás actualmente?
Patricia Andrade – Tanta coisa, tanta coisa, e às vezes não só na musica, nos livros no cinema e andar na rua e ver as pessoas são as experiências pessoais e profissionais.  Não consigo enumerar-te ou dizer-te o que é  e não quero estar a responder por eles. Cada um de nós tem um universo próprio, somos cinco pessoas e ao mesmo tempo somos todos diferentes e talvez por isso a nossa sonoridade seja assim porque temos todos vivências bastante diferentes. Eles tem um registo mais aproximado uns com os outros porque inclusivamente já tiveram bandas anteriores em conjunto e eram sempre sons mais pesados e eu de certo modo vim ali cair de para-quedas.
Isabel Maria – Como é a vossa vida fora dos Sinistro?
Patricia Andrade –  O Fernando Matias tem um estúdio, o Ricardo Matias trabalha numa área que não a música e o Rick e o Paulinho estão ligados a outros projectos, tem Besta, mas se a pergunta se é se vivemos da música, não….
Isabel Maria –  Conseguem conciliar bem as vossas outras obrigações profissionais com os compromissos cada vez mais exigentes que a banda tem vindo a assumir?
Patricia Andrade – Tem de de ser com muita vontade e com calendário e horários rigorosos mas sobretudo com muita vontade, de outra forma dispersas-te. Vais em tour tens de deixar tudo mais ou menos programado para poderes ir em tour. Tem de haver muito foco e concentração.  Preparamos a tour e vamos tentando todos fazer e dividir varias partes do trabalho que isso implica.
Isabel Maria – Com quem gostarias de partilhar o palco?
Patricia Andrade – Nick Cave and the Bad Seeds…PJ Harvey, Iggy Pop, Swans…

Isabel Maria – Há dois ou três anos imaginavas que em 2017 irias estar a fazer a primeira parte dos concertos dos Paradise Lost?
Patricia Andrade –  Há três anos nem sonhava que estaria a fazer tours internacionais.
Isabel Maria – Tem alguma coisa pensada para o Reverence?
Patricia Andrade –  Estamos preparados para estar lá e partilhar.
Isabel Maria– Já estiveste em alguma das edições anteriores do Reverence?
Patricia Andrade –  Não. Este ano vai ser a primeira vez. Já me disseram que é um festival especial, ainda pensei ir no ano passado mas estava a trabalhar. Vai uma estreia a duplicar!

+info em projectosinistro.bandcamp.com | facebook.com/sinistroband

Entrevista - Isabel Maria


Reverence Santarém’17 dia 9, a serenidade de Träd Gräs Och Stenar e o rasgo emocional de Mono

A Ribeira de Santarém amanheceu ao som dos 10 000 Russos. O sol já tinha nascido e ainda se sentia o burburinho daqueles que regressavam às tendas. A manhã estava agradável e algumas pessoas aproveitavam o areal perto da zona onde acampavam. Sem grandes confusões ou barulho, e sobretudo com muito menos vento o dia parecer sorrir-nos muito mais que no dia anterior.
A meio da tarde já novas caras se mostravam pelas imediações do recinto do Reverence na expectativa de mais uma maratona de concertos noite dentro.
A primeira banda que encontrámos foram os Nonn, uma das mais recentes adições da Fuzz Club, e que lançaram o seu primeiro disco em Maio deste ano. A linha em que se movem é sobejamente familiar de todos e durante cerca de 40 minutos de qualidade entregaram-se a um som vagamente negro mas confortavelmente familiar e conseguiram entusiasmar-nos sem dificuldade.
Logo de seguida, e quase sem qualquer pausa, no outro palco os  Royal Bermuda, que são um duo de guitarras, com uma mística que teria funcionado igualmente bem se tivessem tocado no meio do público. Era um daqueles concertos óptimo para relaxar e nos levar à abstração.
Voltámos ao palco principal para ver os suecos Janitors. Quando os Janitors entraram em palco já se fazia sentir algum vento, apesar de ainda faltarem algumas horas para o final do dia.  Mas os Janitors trazem um som poderoso o suficiente para nos fazer esquecer que a noite estava a chegar e entregam-se sem medos e trouxeram-nos Trojan Goat ou Coming Down. Um som pujante, cheio de corpo e com um ritmo quase contagiante e impossível de contornar. Com uma performance pesada e negra mas ao mesmo tempo capaz de arrancar ritmo a quase todos.

Continuamos num jogo de ping pong estranho, mas numa dinâmica já mais mecânica e leve, pois  hoje a sensação de perda que se tinha apoderado de grande parte dos que acompanham o Reverence desde o inicio havia-se dissipado um pouco. Provavelmente porque entre a noite de hoje e outras noites do Reverence existem mais semelhanças que na noite anterior, e esse poderá ser um dos motivos para esse ambiente mais leve, mas nem assim se registou uma adesão substancial, ou sequer superior à da noite anterior.
Os Underground Youth trouxeram a sua negritude romântica que assentou que nem uma luva neste cenário que mais parece o de um festival meio apocalíptico e embalaram, embrulhado nesse post-punk  industrial carregado de influências de bandas obscuras dos anos 80, toda uma atmosfera  levando a pedir um encore que teria sido bastante merecido.

Agora de volta ao palco secundário íamos ter Asimov & The Hidden Circus. O vento que já se fazia sentir trouxe consigo alguma dificuldade, ainda para mais num palco que não é coberto e que comporta neste momento 5 músicos. Há 4 anos atrás foram uma das bandas que surpreendeu com uma performance crua e cheia de garra, quando ainda eram um duo de guitarra e bateria. Agora com a recente adição do baixista Rodrigo Vaz, e aqui no Reverence com a colaboração com Pedro Madeira na segunda guitarra e Joana Guerra no violoncelo, pudemos assistir a um crescimento e a um envolvimento de toda a dinâmica enquanto banda, dando uma nova roupagem muito mais rica e e surpreendente a todo o conjunto e construindo todo um concerto envolvente e rico em sons, distorções e melodias de um psicadelismo maduro e fascinante.

Outra das surpresas, mas que na verdade não o é, foi a prestação dos Siena Root. Num momento em que já começámos a sentir o desconforto da noite os Siena Root conseguiram prolongar um pouco mais o calor do dia e deram um excelente concerto cheio de garra e rock n roll, com a voz de Sanya, a estrear-se em palco e a banda a sentir uma alegria genuína que contagiou por completo o publico que no final aplaudiu efusivamente e pediu mais.
Já noite cerrada temos os Träd Gräs Och Stenar, que carregam consigo uma história já longa, remontam aos anos 60 e continuaram ao longo das décadas seguintes a construir. Decerto ao longo de todos estes anos tocaram em palco improvisados e com muito menos condições que este onde agora se encontravam, mas a verdade é que isso tudo também deve ter acontecido há muito tempo. E novamente voltámos a sofrer as dificuldades nos testes de som com a banda a demorar, mas a fazer valer a pena a espera, e fazendo-nos navegar na sua sonoridade quase onírica durante cerca de uma hora. Sem quaisquer deslizes ou enganos, estes músicos são uns verdadeiros senhores do progressivo, mestres na arte do improviso e que nos fizeram sentir a música de olhos fechados como tantas vezes nos anos anteriores, sem recurso a pirotecnia ou a imagens ou projecções, munidos apenas de músicas boas recheadas de boas sensações. Foi com o coração cheio que abandonámos o palco depois se ter pedido mais e mais.

Continuando neste jogo,  tivemos de seguida os Cows Caos no palco secundário com o seu garage surf contagioso e dançante, personificado na figura de Rute Ellis que percorre todo o palco com a sua performance e mantém o público desperto, atento e até mesmo divertido.

Os Gang Of Four demoraram bastante tempo a acertar tudo e iniciar o concerto, que iniciam de forma um tanto ou quanto atabalhoada. Esta nova encarnação dos Gang Of Four, de cuja formação original apenas resta o guitarrista Andy Gill, tem os seus prós e os seus contras. A secção rítmica tem uma qualidade e uma entrega completa, e segura o resto. Segura um vocalista um pouco perdido e um guitarrista que não perdeu ainda toda a sua chama mas que já não consegue acompanhar de forma natural a bateria e o baixo. A energia do jovem vocalista contrasta com a impossibilidade de Andy o acompanhar, quer vocalmente, quer pelas peripécias em palco. Larga o microfone sistematicamente e por isso temos técnicos a entrar e a sair de palco a todo o instante. O público movimenta-se e abana-se porque a qualidade das composições continua lá, a transposição para o palco é que não traz de facto a qualidade que se esperaria, apesar de alguns elementos cénicos serem cativantes, as quebras de ritmo entre e durante músicas levam a melhor sobre a banda.

Os portugueses Pás de Problème proporcionaram mais um interlúdio. Tal como anteriormente os Cows Caos haviam feito, porque na verdade tanto uma banda como a outra fogem quase completamente ao restante conjunto de bandas, numa dinâmica engraçada e animada para espevitar o público, que demonstrou curiosidade e se manteve boa parte do concerto interessado.

Mas grande do público que se deslocou até Santarém veio para ver os Mono, uma banda japonesa com uma carreira já bem consolidada e que já visitou Portugal várias vezes. É verdade que demoraram perto de 40 minutos até obter as condições desejadas para entrar em palco mas que ofereceram provavelmente o concerto com melhor som do festival, com uma intensidade que quase era palpável, mantiveram o público no limite dos sentidos a interiorizar toda a riqueza das suas composições durante cerca de 80 minutos, que para muitos não foram suficientes.

Depois da pedrada emocional que foi o concerto dos Mono, os Is Bliss pouco mais conseguiram que dissipar a emoção do público, que se mantinha em níveis bastante elevados a lutar contra a temperatura e o vento que se faziam sentir. Não é toda a gente que se mantém 12 horas de concerto, e para que isso aconteça há que manter um certo ritmo.
Os suecos Hills demoraram bastante tempo a conseguir produzir o som que pretendiam e o concerto começou sem que o tenham alcançado. Começaram de forma meio tímida, a dialogar entre si, como se tentassem decidir o que fazer de seguida, de tal forma que nem se percebeu bem o momento real entre o fim dos testes de som e o inicio do concerto. Passaram por algumas das musicas do primeiro disco como Rise Again ou Master Sleeps, músicas com um grau de profundidade que não se conseguiu sentir pois o som das várias guitarras parecia cruzado, salvando-se a coerência do conjunto através da bateria e do baixo, apesar da bateria em certos momentos perder o fulgor necessário. Continuaram a dialogar entre si entre cada música, provocando perdas de ritmo e mesmo de interesse, imperdoáveis quando o relógio já marcava mais que as 03.00 da madrugada. Uma banda sui generis da qual se esperava um concerto no mínimo cheio e possante, mas que no fundo vieram apenas fazer mais um concerto. Podemos perceber que a qualidade está lá mas a banda apesar de muito divertida em palco não conseguiu passar esse à vontade, ou bem estar que parecia estar a sentir para o público.

As forças faltaram-nos para ver as quatro bandas que às 04h.00 ainda não haviam actuado; Löbo, Esben and The Witch, Luis Simões e Dr. Space e, a fechar o festival, os Throw Down Bones.
No fim de tudo, continuamos a não perceber realmente o que se passou com o Reverence, mas poderá ser apenas um conjunto de situações desfavoráveis. O anúncio tardio, no final de Maio, a adição de bandas que o publico dos anos anteriores não identifica com a linha do Reverence, a alteração de localização…
Mas tudo isso teria sido ultrapassado se as bandas pudessem ter proporcionado espectáculos com condições ao invés de proporcionar momentos de quase desespero em testes de som absurdos e mal coordenados, que originaram quebras de ritmo impossíveis de recuperar quando ainda restavam quase dez bandas para ver.

Um dos grandes revés que tiveram foi sem duvida a condição meteorológica daquele fim de semana, e isso são pormenores que devem de ser tidos em conta, mas que deveriam de ter sido acautelados.
Aguardamos dias melhores e sobretudo que deste acontecimento sejam retiradas quer a aprendizagem quer a capacidade de assumir que o Reverence é, ou foi um conceito querido e sentido no âmago como uma pedrada no charco dos festivais quando surgiu em 2014. Queremos esse sentimento de plenitude e alma cheia de volta, queremos o Reverence.
Esperamos por noticias, por boas noticias, por uma reviravolta, por um regresso às origens. Esperamos pelo Reverence, o tempo que for preciso. Sim, o tempo que for preciso, porque talvez um ano não baste. Até breve Reverence.

Texto - Isabel Maria




Reverence Santarém’17, dia 8: Salvos pela energia desconcertante de Bo Ningen


Na passada sexta-feira teve inicio a quarta edição do Reverence, festival acarinhado pelos fãs da música menos mainstream e habitualmente com uma forte tónica de psicadelismos, doom e stoner. A quarta edição do Reverence prometia trazer novidades. Trouxe novidades, mas sobretudo alterações. A mais notória de todas, ainda mesmo antes do início terá sido a alteração da localização do festival, que nas suas três primeiras edições se realizou no Parque de Merendas de Valada, transferindo-se este ano para aquela que, segundo refere a organização, havia sido a primeira localização pensada para o mesmo; o Parque da Ribeira de Santarém.
Outra das alterações que se deu foi a redução do número de palcos e actuações, que iria permitir, à partida, um visionamento mais relaxado dos concertos sem ser necessária a preocupação de anos anteriores em que simples deslizes e distrações faziam com que perdêssemos alguns concertos.
O ano de 2017 trouxe também a colaboração da Fuzz Club, que comemorou o seu quinto aniversário, trazendo várias bandas da sua chancela para comemorar em Santarém.

Mas o que encontrámos ao chegar na sexta-feira a Santarém foi bastante diferente do cenário que havia sido amplamente falado durante o verão. As condições do recinto em nada são comparáveis às dos anos anteriores no Parque de Merendas de Valada. A inexistência de sombra junto ao palco principal, a inexistência de vegetação ou quaisquer outros elementos que fechassem um pouco o espaço aberto, num plano mais elevado que o resto do recinto faziam com que o local se tornasse inóspito e com o decorrer dos concerto e a diminuição da temperatura durante a madrugada se tornasse deveras hostil mesmo para os mais habituados a estas andanças. Por outro lado o palco secundário que se misturava um pouco com a zona de refeições, apesar de estar mais abrigado por ter árvores à frente, era um palco descoberto, de costas para o rio, o que também não terá ajudado de forma nenhuma em algumas actuações.
A zona de refeições composta por uma oferta com qualidade, mas pouco diversificada e onde apenas existiam três mesas e nem uma dezena de cadeiras, apenas terá conseguido responder à procura, porque a afluência não foi muita, mas ainda assim sem qualquer conforto para quem a utilizou.

As condições do parque de campismo são comparáveis a um qualquer acampamento espontâneo junto a uma praia fluvial, sem água disponível, duches, ou mesmo qualquer área delimitada, ou até mesmo segurança.
A proximidade de uma estação de comboios, era algo que poderia à partida ser uma mais-valia, mas viria a demonstrar-se apenas mais um contratempo no meio do cenário um pouco perdido em que nos encontrávamos, pois de tempos a tempos os concertos eram interrompidos pelo som da campainha que anunciava a passagem de mais um comboio.
Mas tudo isso poderia ser superado se de facto os concertos viessem a corresponder às expectativas.

Quando chegámos ao recinto o mesmo ainda se encontrava um pouco despido, demasiado despovoado, mesmo para uma sexta-feira à tarde. Na verdade o recinto, mais aberto e com menos árvores em volta dos palcos proporcionava de imediato essa mesma sensação. O palco secundário, encontrava-se a uma distância pouco razoável, por ser demasiado próximo e não haver qualquer barreira natural ou artificial que os separasse, pelo que aguardámos para perceber de que forma iria decorrer o funcionamento do mesmo.
Fomos ao encontro dos Desert Mountain Tribe, que começavam nesse momento a sua actuação. Trouxeram um set descomprometido que abarcou a curta carreira da banda. Passaram por Hitzefrei, ou Coming Down e Take a Ride com algum entusiasmo. No entanto e apesar da vontade com que se entregaram foi difícil aquecer realmente o público que ainda era bastante reduzido.

Quase imediatamente de seguida pudemos assistir à performance da one man band Tren Go! Sound System, projecto de Pedro Pestana, guitarrista dos 10000 Russos, banda à qual cabe nesta primeira noite o encerramento. Pedro Pestana, só em palco, envolveu-nos em mil efeitos que produz com uma guitarra, como se percorrêssemos toda uma galáxia enquanto ele segura um cigarro na boca e manipula o som e a atenção do público.

A esta altura fazia-se já sentir uma temperatura bastante mais baixa que durante a tarde e o vento, bastante frio e por vezes intenso e a prometer não dar tréguas, dificultava bastante os testes de som e mesmo as performances em ambos os palcos.
Às 20.50 deveria ter tido inicio o concerto dos belgas Oathbreaker, no entanto o mesmo acabou por começar apenas depois de uma luta inglória da vocalista Caro Tanghe para se fazer ouvir, num teste de som que durou cerca de vinte minutos. O público persistiu apesar da prolongada espera e apesar das notórias dificuldades com o som, e os Oathbreaker em visível esforço para começar o concerto, conseguiram agradar ao público interessado. Mas nem todo o esforço da banda conseguiu vencer as dificuldades com o som, o vento e o frio que se haviam instalado, e assim, uma banda que prometia bastante acabou por nos dar apenas o essencial porque apesar do esforço não conseguiram mais que isso.

Os Zarco, no meio de um menu um pouco mais denso e pesado deram um concerto descontraído e descomprometido, um momento para desanuviar. Ainda o concerto de Zarco não havia terminado e já algumas pessoas se concentravam para ver Amenra no palco principal.

Os Amenra também já entraram em palco fora do horário expectável. Apesar das dificuldades que eram notórias com o som de ambos os palcos, neste concerto essa dificuldade não se fez sentir de forma tão aguda. Os Amenra conseguiram fazer passar para a massa humana que a esta altura havia aumentado ligeiramente quase toda a densidade através da sua música, mas também com as fantásticas projeções que os acompanhavam, ampliando todo o ambiente negro e denso, e talvez pela primeira vez nessa noite sentimos que estaríamos num festival.

A noite avançava e no regresso ao palco secundário encontramos os Wildnorthe com a sua sonoridade mais perto do gótico e do pós-punk que parecia realmente preparar-nos para o resto da primeira noite. A banda cumpriu a sua parte, dando a conhecer a sua sonoridade e cativou o público que foi chegando aos poucos mais perto de palco para os ver e ouvir.

Os Moonspell sofreram também com a intempérie, e acabariam por entrar em palco perto da meia-noite, depois de um também longo período de testes de som. Sabíamos de antemão que o concerto abarcava os dois álbuns icónicos da banda, Wolfheart e Irreligious, o que significaria um concerto com não menos de 90 minutos de duração. A banda proporcionou um espetáculo que conseguiu aquecer parte da plateia, mas é importante salientar que um concerto com a duração de duas horas no meio de mais 20 concertos pode tornar-se excessivo e foi exactamente o que aqui se verificou. Fernando Ribeiro clamou pelo público a cada música o que acabou por tornar tudo um pouco mais pesado e mesmo forçado, originando uma quebra de ritmo. Muito embora se compreenda que foi este o compromisso da banda desde o inicio, o longo espetáculo, com direito a pirotecnia em palco, acabou por levar boa parte do público a abandonar o recinto, pelo cansaço, pelo frio, pelas condições que não pareciam favoráveis a nada mais que mantas e sofá, ou neste caso a tendas e sacos cama.

Voltando ao palco secundário, este pareceu pequeno para o poder sonoro dos Névoa, e a durante boa parte do concerto o som dos Névoa atingiu pontos de distorção quase incompreensíveis, mas arrancaram do público que permanecia firme nas suas convicções um forte aplauso.

A surpresa da noite chegaria perto das 03.00 com os japoneses Bo Ningen e a sua energia contagiante e electrizante. A banda prima pela forma inusitada com que se apresenta. Não é apenas o aspecto andrógino de Taigen Kawabe, vocalista e guitarrista, mas os movimentos e as expressões com que confronta o público. Mantiveram-nos presos ao palco até ao fim, a dançar como ainda não se havia dançado nessa noite. Foi o mais perto que estivemos de uma festa, de uma celebração cheia de energia. Apesar de estarem a entrar em palco já com cerca de hora e meia de atraso, é certo que todos os que por lá ficaram avançaram pela noite com uma satisfação diferente depois de assistir a este concerto.

Depois do concerto mais electrizante da noite coube aos portugueses Melancholic Youth Of Jesus a performance seguinte e aqui a noite já ia bastante longa.
Perto das 4.00h, hora a que se deveria ter iniciado o concerto de 10 000 Russos, ainda não haviam actuado os Sinistro e os Two Pirates and a Dead Ship. Assim, e apesar da promessa de um nascer de dia ao som de 10000 Russos parecer sempre óptima, ou mesmo de um fim de noite na companhia dos Sinistro, acabámos por dar como encerrada essa noite estranha em que não conseguimos realmente sentir a pulsação do Reverence. Sábado seria um novo dia.

Texto - Isabel Maria

https://www.musicaemdx.pt/2017/09/15/reverence-santarem17-dia-8-salvos-pela-energia-desconcertante-de-bo-ningen/
      
 



David J. – Negro e Cru

Na passada sexta-feira o Sabotage Club acolheu o primeiro concerto do Warm-Up para o Festival Reverence que este ano muda de localização e também de nome passando a denominar-se Reverence Santarém.
O público não acorreu massivamente, mas quem veio ver e ouvir a actuação a solo de David J, baixista e fundador de bandas como os Bauhaus ou os Love and the Rockets, não deu por perdido o seu tempo.
Era na verdade um concerto para verdadeiros fãs, para quem entende a essência de David J., e o intimismo que a sala proporciona seria um dos aspectos mais atractivos da situação. Afinal não é todos os dias que temos os mitos ao alcance da mão.





David J. e a sua guitarra a sós no palco do Sabotage, que apenas tinha uma mesa para apoio do cantor pareciam demasiado sós. O público chegou-se bastante perto à beira músico que escreveu Bela Lugosi’s Dead e dele esperou nada mais que a sua entrega num périplo que faria de forma equilibrada entre a sua carreira a solo e as suas colaborações mais conhecidas.
Who Killed Mr. Moonlight abriu o concerto, dando ao público o que ele queria, a confirmação absoluta de que se tratava de David J, como se ter alguém como ele ali a menos de um metro de distância fosse difícil ou quase impossível. Mas não foi e David J. mostrou-se bastante comunicativo e com um humor bastante leve contando histórias sobre as músicas que havia escolhido e relembrando outras sobre a sua vida de músico. Goth Girls in Southern California trouxe sorrisos aos presentes, enquanto a música que David J. conta ele que a compôs na noite em que David Bowie morreu, Where Were you The Day David Bowie Died, trouxe um certo sentimento de nostalgia e estamos em crer que muitos dos que ali se encontravam terão recordado o momento em que souberam do desaparecimento de David Bowie.
Momentos de nostalgia pura em que trouxe para esta roupagem acústica músicas dos Love And The Rockets, e mesmo uma versão de uma música dos The Replacements.
David J, remete-nos sem qualquer sombra de dúvida a todo o universo Bauhaus e toda a essência desse noir tão evidente nas letras, mas a nudez das músicas, a simplicidade do homem e da guitarra, levou a que o público se dispersasse em alguns momentos e a atmosfera se tornasse demasiado barulhenta.
Se substituíssemos a guitarra de David J. por uma banda, com bateria baixo e guitarras é quase certo que a sala teria vibrado de forma diferente. Mas talvez David J. já não queira isso e esta sua forma de se expressar musicalmente seja reflexo de muitos anos a fazer muitas coisas que o levaram a este caminho, que quem acompanhou sem hiatos compreenderá decerto muito melhor do que aqueles que apenas reconhecem David J. pelos seus trabalhos de Bauhaus ou Love and The Rockets.
Senhor de um bom humor cativou-nos a simplicidade com que se equilibrou nas suas escolhas e nas suas conversas, mas não convenceu totalmente. A guitarra de David J., não chega para a energia que ele ainda tem nele, não é suficiente.
David J. deixou-nos na boca um travo amargo, uma sensação de perda, porque ficámos naquele limite em que no peito nos bate o som cru, mas na verdade não atravessa, apenas nos toca ao de leve.
Mas é um Warm-Up. O Reverence está mesmo aí a chegar e o que este concerto nos mostra mais uma vez é que o Reverence é um festival de muitos públicos. Não se fica por uma franja do rock mais underground, acabando por ser transversal e cheio de surpresas.

Texto - Isabel Maria


Mythic Sunship, As Anacondas também voam

É possível que o tempo que demoram a ler esta entrevista aos Mythic Sunship seja inferior ao tempo da maioria das músicas por eles feita. Os 4 dinamarqueses que dão pelo nome de Mythic Sunship estão a poucos dias de lançar o seu quarto álbum pela editora El Paraiso Records, Upheavel. Desde 2010 que Emil (Guitarra), Frederik (guitarra), Kasper (bateria) tocam juntos, mas foi a entrada do baixista, Rasmus em 2014, que os levou um pouco mais além. Desde 2015 tem vindo a conseguir aprimorar a complexa mistura de influências que cada disco comporta, recheado com uma forte componente de improvisação que foram beber a géneros diversos, para nos proporcionarem viagens completas aos sítios mais recônditos do universo. Descrevem a música que criam como Anaconda rock.
Uma viagem intensa, plena e cheia de sensações tão familiares mas ao mesmo tempo de total descoberta e renovação é isso que nos espera dentro de cada registo dos Mythic Sunship.
A reter; Upheavel estará disponível dentro de dias. Por enquanto temos para ouvir Cosmic Rupture, que claramente confirma que o caminho trilhado até aqui pelo quarteto de Copenhaga ainda agora começou.



Isabel Maria – Podem apresentar a banda aos nossos leitores?
Emil – Os Mythic Sunship são Kasper e Emil na guitarra, Rasmus no baixo e o Frederik na bateria.
Isabel Maria – Como se formaram os Mythic Sunship?
Emil – O Kasper e o Frederik tocam juntos desde os tempos de escola e nós os três tocamos juntos desde 2010. Fomos tocando de uma forma um pouco intermitente durante um par de anos até que o Rasmus se juntou a nós no fim de 2014. Ter um baixista foi o catalisador para os anos productivos que temos tido desde aí.
Isabel Maria– Como escolheram o nome para a banda? Li algures que está relacionado com um álbum do John Coltrane e outro do Sun Ra, mas faltavam umas peças na história…
Emil – Haaaa!….Mesmo gostando dos 2, as referências ao Coltrane e ao Sun Ra não foram intencionais! Quando a El Paraiso Records o mencionou na press release para o Ouroboros, começou a aparecer em todas as reviews do disco. Não me lembro como chegámos a este nome. Acho que passámos por 500 nomes diferentes até chegarmos a um que nenhum de nós detestasse.

Isabel Maria– E como chegaram à El Paraiso Records?
Emil – A Dinamarca é um país relativamente pequeno, especialmente a cena musical, então todos conhecíamos o Jonas Munk da El Paraiso Records. O Frederik gravou um disco com a sua antiga banda os Bright Kids no estúdio do Jonas. Depois do Ouroboros ser misturado, enviámos para a El Paraiso com a esperança que tivessem interesse no seu lançamento e…. aqui estamos nós!!!
Frederik – Sim, eu conheço o pessoal da El Paraiso (Jakob Skott e o Jonas Munk) há alguns anos. Penso que desde que começámos tivemos o sonho de lançar a nossa música com o selo deles. Eles gerem uma editora com seguidores muito dedicados e porque são tão focados na qualidade é como receber um selo de aprovação ao ouvi-los dizer “ Sim, curtimos a vossa cena”.
Isabel Maria– Podem explicar-nos o vosso processo criativo?
Emil – Uma ideia pode ser “ todos começam a 100%, completamente fora de tom e depois a certo ponto procuramos encontrar um groove baseado no MI” ou “o Kasper toca uma melodia pesada cheia de delay em Lá maior que o Frederik junta uma batida estilo motorik”. Ao fim de 1 minuto de música, tudo é 100% de improviso. Quando gravamos, normalmente temos algumas ideias que queremos experimentar e outras coisas acontecem ao acaso. Por exemplo, a música Nishapur do Land Between Rivers foi só num take em que a única coisa que estava decidida era que eu ia tocar uma sucessão de 2 acordes que soassem vagamente como uma música dos Fushitsusha.



Isabel Maria – Quais são as vossas maiores influências?
Emil – Basicamente qualquer banda que incorpore improvisação na sua música, desde o Free Jazz até à música electrónica e tudo o que fique no meio. Bardo Pound, Can, Manuel Göttsching, Sonny Sharrock e os Greatefull Dead são as minhas principais inspirações.
Frederik – Eu sempre fui um grande fã de jazz e sei que o Rasmus também. Para mim pessoas como o John Coltrain e o Pharaoh Sanders são muito maiores inspirações que qualquer banda de rock, mas depende a quem perguntares na banda. Seria tolice negar a influência de bandas como os Earthless, Sleep ou Jimi Hendrix, por isso acho que é uma mistura mas com um peso diferente entre cada um de nós. Vamos gravar o nosso 4º disco em Dezembro e posso dizer que as influências do jazz serão mais óbvias neste disco.
Rasmus – É claro que que tenho muita influência dos grooves do rock clássico como os The Stooges, Black Sabbath, Jimi Hendrix ect. E também bandas de jam como os Hawkwind ou os Grateful Dead como referiu o Emil ou bandas alemãs e japonesas da cena do prog e improviso dos anos 70, mas também muita da inspiração vem do jazz, a maneira de estruturar as músicas, a mistura de vários instrumentos a solar e a dar espaço para os outros ao mesmo tempo. Gosto de pensar que somos uma banda de improviso com uma instrumentalização rock. Somos mais que uma banda rock assim dizer.
Emil – Acho relevante dizer que tocamos música (e instrumentos) muito diferente fora da banda. O Rasmus toca saxofone num duo de jazz, o Frederik faz música ambiente, o Kasper faz umas brincadeiras com sintetizadores e eu tenho um projecto de electrónica. Mas a formação de 2 guitarras, baixo e bateria obviamente vem do rock. Gosto de pensar que a nossa música reflecte o largo espectro musical em que nos englobamos como músicos e como ouvintes.



Isabel Maria– Se tivessem uma máquina do tempo, com quem, quando ou onde gostariam de tocar?
Emil – Não vou mentir, gostaria de fazer de banda suporte dos The Greatful Dead no concerto no Chateau d’Herouville em 1971…. ou tocar num daqueles concertos dos Can nos bons velhos tempos.
Frederik – Com o John Coltrane Quartet no concerto no Half Note em 1965. Seria um bocado ridículo se pensares mas, aquele concerto foi a performance mais marada alguma vez gravada ao vivo.
Rasmus – Ou abrir para os Black Sabbath no seu primeiro concerto em Paris em 1970. É capaz de ser um dos momentos mais vitais na história do rock.
Isabel Maria – Já estiveram em Portugal? Conhecem alguma banda Portuguesa?
Emil – Sim. Já estive no Porto, Lisboa e Faro este verão e adorei! Não posso dizer que conheço muitas bandas Portuguesas mas gosto muito do Norberto Lobo.
Isabel Maria– Estão actualmente em tour ainda por conta de Land Between Rivers. Como está a correr?
Emil – Tocar ao vivo é sempre bom mas, ainda não fizemos tantos concertos como gostaríamos. Mas isso está para mudar em 2018. Estamos prontos para a Tour Europeia em Abril.
Isabel Maria – Como descreveriam a vossa música para os nossos leitores que nunca vos ouviram?
Frederik – Anaconda rock: Grande e pesado e uma metáfora para um grande e longo charro.
Emil – Eu tento explicar que durante uma peça de improviso com mais de 10 minutos pode parecer avante-Gard e inacessível, mas que realmente não é. Gosto de pensar que as pessoas que não costumam ouvir música experimental podem por um disco dos Mythic Sunship e gostar dele.



Isabel Maria – Um desafio agora. Podem identificar 2 músicas novas ou antigas que de alguma maneira vos causaram boa impressão?
Emil – Sonny Sharrock – Many Mansions é uma música a que gosto sempre de voltar. Consegue ser pesada e ao mesmo tempo muito fluida.
Eric – Morning Lighthouse provavelmente contabiliza 50% da minha air guitar durante todos estes anos o que quer dizer muito tempo!
Frederik – Não é bem uma música, mas a 1ª vez que o Jazz de improviso fez clique foi quando ouvi o The Olatunji Concert com o John Coltrane. Aquele concerto é completamente fora!! Foi apenas 3 meses ante do Coltrane morrer e quase que o consegues ouvir na música. Também tenho que falar do Rip Tide dos Causa Sui. Quando eles a tocaram no Summer Sessions 2 e 3 ninguém esteve tão perto de encaixar aquela perfeita mistura entre o riff do rock e o sax do free jazz! Toda a gente ou está do lado do muito pesado ou do muito jazzy mas, eles acertaram!!!!
Rasmus – Isso é difícil…. o minimalismo Americano, o inicio dos blues, free jazz, música do norte de África, cantores e músicos de todo o lado deixaram-me com experiências musicais bastante profundas. Enquanto artistas gosto dos Velvet Underground, Kate Bush, Elvis Presley, Otis Redding, Joni Mitchell, Beach Boys, Talking Heads e Michael Jackson…vão comigo para todo o lado. Acho que há uma razão para eles serem tão clássicos. Mas quando estou mais em baixo tenho que pôr os Creedence Clearwater Revival e ir até lá acima. Algumas das minhas células necessitam daquele material para continuarem vivas.
Isabel Maria – Obrigada pelo vosso tempo e aguardamos a chegada de Upheavel a 12 de Janeiro e um concerto em Portugal para breve!

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https://www.musicaemdx.pt/2018/01/09/mythic-sunship-anacondas-tambem-voam/