Songs To Nowhere#109#Trendkill Radio#6.09.2021

Clementine e Parkinsons, ou as entradas servem-se cruas e o prato principal queima-te a boca





Ontem, quinta feira,  depois de um dia de trabalho e antes de outro dia de trabalho, para a maioria dos que compareceram no Sabotage Club, os Parkinsons começaram a celebração da edição em vinil de A Long way to Nowhere, editado pela primeira vez em 2002.
Em 2012 vi os Parkinsons no Ritz. Foi um concerto que não compreendi. 
Estava fora daquele meio Ritz cheio de amigos que celebravam com eles aquela noite.
Mas em 2012 não percebi  isso, só em Abril de 2014 no Sabotage. Aí percebi que em 2012 estava apenas fora do contexto.  Demorei  cerca de 12 minutos para perceber isso.  E aí, saí da cabine do Sabotage onde estava alegremente na palheta com o David Polido e fui sentir aquele concerto!
Sim. Um concerto de Parkinsons sente-se. Na pele toda. 

Quem compra um bilhete para ver os Parkinsons sabe ao que vai. É um concerto de amigos para amigos. É uma festa, uma celebração, e se fosse ao ar livre até poderia ter pirotecnia executada por eles, ou como se diz “Eles fazem a festa, lançam os foguetes e recolhem as canas”. Eles são a festa e sabem contagiar toda a gente como poucas bandas conseguem.
A chuva que se intensificou ao longo do dia não desanimou quem chegava e o Sabotage acabou por ter uma casa bem composta de amigos e outros que tais para receber ambas as bandas.

O duo Clementine, Frankie Wolf (Shelley Barradas) e Lena Huracán (Helena Fagundes), iniciou as hostilidades por volta das 23h. E sim, hostilidades é uma palavra adequada.
O som destas miúdas destila poder e não falo de girl power ou riot grrrl ou algo semelhante.
É poder mesmo.
 É duro, honesto, honesto e bruto como uma qualquer primeira vez.  Street Walker e Monga que se podem ouvir  no EP Tiger de 2016 são isso mesmo.  Mutations ainda mais crú!  Cerca de meia hora de concerto com muito poucas paragens para respirar e quase nenhuns artifícios que nos distraíssem da prestação de Clementine,a que apenas acrescento que a cada concerto se revelam mais seguras do seu poder.

Os Parkinsons rodeados de amigos, no Sabotage, que me parece para eles é de facto uma casa, subiram ao palco por volta das 23h30, para começar o périplo por A Long Way to Nowhere.
São os Parkinsons e estão ali mesmo para nos obrigar a largar tudo para trás das costas e saltar e gritar com eles. Ao cabo de duas músicas já Afonso Pinto viaja por cima do público!
O concerto não esgotou, mas o facto de existir algum espaço no público, permitiu também uma interacção com o publico mais fluída que outros concertos que já vimos, onde respirar é quase uma tarefa hercúlea.
O objectivo de Afonso, Pedro Chau, Vitor Torpedo e a muy poderosa Paula Nozzari foi do principio ao fim provocar um motim e não deixar pedra sobre pedra e, quando anunciaram que iam tocar Scientists, alcançaram o objectivo.
Body and Soul mantiveram o público no pico e Bad Girl para ir ainda mais além.
O público apesar de receptivo não se entregou totalmente!
Nem com todas as provocações e incursões pelo público de Afonso Pinto conseguiram aquilo que hoje não será muito difícil, sendo sexta feira e sabendo-se já que o concerto se encontra esgotado.
O caos.
Na verdade ninguém se importou realmente com isso. Quem quis saltar saltou, quem quis ver um bom concerto conseguiu isso mesmo!
Quiseram despedir-se mas ainda tocaram So Lonely e deixaram o aviso...Amanhã há mais!
Há cerca de duas horas ficámos a saber que afinal não são duas noites mas três....
Considerem-se avisados...os Parkinsons tocam três dias seguidos no Sabotage Club, Não é para quem quer, é só para quem pode!

No fim o conselho que deixo é:
Estás de mal com a vida? Vai de espírito aberto ver um concerto de Parkinsons. Se não passar com a primeira dose mete a segunda, porque hoje é sexta e há mais no sábado!
P.S. desculpas manhosas do estilo, ah e tal está a chover não servem para perder isto!
Senhoras e senhores o espectáculo segue dentro de breves instantes com the Amazing Flying Pony e o segundo round dos Parkinsons.

Podem ver a reportagem completa no Música em DX com fotografia do Luis Sousa!http://www.musicaemdx.pt/2016/11/26/clementine-e-the-parkinsons-ou-as-entradas-servem-se-cruas-e-o-prato-principal-queima-te-a-boca/

Dirty Coal Train e The Swamps (Jap) Furacão rock n’roll



No passado sábado a Groovie Records celebrou o seu 13 aniversário e foi celebrá-lo com toda a pompa possível ou imaginária a uma editora de rock n’roll, ao Sabotage Club. Rock n’roll à séria de gente que carrega às costas a música para a fazer chegar onde a possam ouvir.
O local escolhido para acolher a festa foi o Sabotage Club que dista uns 500 metros em linha recta, e sem mudar de passeio da loja da Groovie Records.
As festas da Groovie Records que já nos trouxeram bandas como os brasileiros Dead Rocks, trouxeram-nos desta vez uma banda do país do sol nascente como protagonista, os The Swamps.
Foi todo um cenário de rock n’roll numa festa onde tudo era possível.
Poucos esperariam ver os Dirty Coal Train como duas verdadeiras pedras rolantes numa indumentária estampada com um toque de selva. E sim, estavam em estado selvagem. Quer na indumentária quer no som que debitaram sem qualquer dificuldade.
Os Dirty Coal Train actuaram determinados a incendiar o público. Incendiaram também os membros dos The Swamps, que vagueavam pelo público num registo de êxtase & jet lag agressivo, movendo-se ao som de um ritmo elevado que impuseram durante todo o concerto. 

É fantástico ver a garra com que os Dirty Coal Train agarram o público e de uma forma frenética, vertiginosa, avançam para o meio do público, rebolam no chão, encarnam em si todo o rock n roll possível dando tudo de si. Oferecem mais uma vez um concerto irrepreensível e sempre cheio de surpresas que torna impossível não se gostar deste trio maravilhoso.
Depois da fabulosa actuação dos Dirty Coal Train o público estava mais ou menos preparado para o que se seguia, no entanto alguns problemas técnicos dos Swamps quebraram o ritmo vertiginoso que havia sido imposto pela locomotiva bem oleada dos Dirty Coal Train.
Os The Swamps apareceram pela mão de Kim and Miss Koko e desde o inicío têm procurado trazer à audiência um autêntico espectáculo de rock n’roll com um enfase muito especial no garage punk.
A indolência com que se movem em palco mostra isso. São exibicionistas mas no bom sentido da palavra, exibicionistas por que estão ali para se exibir e é isso que fazem!
Começaram realmente de forma um pouco tímida, mas ao cabo de quatro músicas já estava marcada a posição.
Marcam pela distorção, a guitarra suja, quase sangra de tão crua que se faz sentir a ausência de efeitos. Tudo neles é cru, directo, rude, ríspido. Mas o público vibra com o ritmo de Miss Koko e do baixista que sustêm na parte rítmica toda a distorção da guitarra e a diluem!
É um daqueles fenómenos que só faz mesmo sentido depois de ver ao vivo. A visão fora do vulgar que estes japoneses têm do rock n roll. 

Kim rebola no palco, e toca guitarra em todas as posições que consegue, canta, grita, urra!!
E o público grita e dança com os Swamps! As festas de Rock’n roll são mesmo assim! Os Dirty Coal Train e os the Swamps apresentaram e representaram de forma exímia o que os move e homenagearam da melhor forma a editora a que pertencem.
Podem ver a reportagem completa no Música em DX com fotografia do Luis Sousa!

Labirinto & Then They Flew: o post rock a cruzar o Atlântico



Na passada terça-feira o Sabotage Club brindou-nos com uma generosa imersão de post  Rock, oferecendo-nos dois concertos, de duas bandas que se poderiam dizer familiares e representantes do mesmo género. Os Labirinto, banda brasileira que conta já com cerca de 13 anos de existência, e os portugueses Then They Flew.
Encontrámos uma casa a meio gás, pouco composta de gente, no entanto os Then They Flew deram o seu melhor para interessar quem pudesse chegar, e no meio da sua harmoniosa angústia post rock arrancaram muita gente da monotonia de uma terça-feira qualquer através dos seus riffs compostos e trabalhados à exaustão.
Os brasileiros Labirinto trilham o seu caminho desde 2003, numa mistura harmoniosa de riffs de guitarra cheios e e pesados e outros arranjos orquestrais, e uma percussão com um certo travo tribal que denuncia a nota tropical deste post rock do outro lado atlântico e vieram apresentar o seu mais recente registo, editado em marco deste ano, Gehena. 

O palco foi pequeno para albergar os seis músicos que se entregaram por completo à viagem que pretendiam proporcionar onde não faltou sequer o elemento visual comandado pela poderosa baterista da banda.
A integração de elementos orquestrais e elementos electrónicos como em Locrus ou Avernus mostram o complexo trabalho que a banda tem para criar este arrojado post rock, em que elaboram camadas sonoras sucessivas que preenchem na totalidade o éter e que nos traz uma sensação de viagem turbulenta mas ao mesmo tempo segura e apaziguadora.
Houve tempo para conversar com o publico, e expressar algumas preocupações sobre a actual situação do Brasil, o que desanuviou um pouco o ambiente quase soturno que haviam criado com a própria sonoridade.
Num momento estávamos imersos numa vertiginosa explosão sonora crispada pelos poderosos riffs das guitarras e a bateria maníaca quase a explodir, no momento seguinte já num outro mundo onde apenas sentimos os sons apaziguadores criados electronicamente e misturados com a percussão para nos levarem sem qualquer receio na viagem que tinham para nós programada.
O concerto sucedeu numa espécie de crescendo emocionante e foi uma boa demonstra;ao do que se esta a fazer a nível de sonoridades mais pesadas do outro lado do atlântico. A faixa que dá nome ao álbum, ficou para o final e fechou uma boa noite de musica. Aguardamos nova visita!Podem ver a reportagem completa no Música em DX com fotografia do Luis Sousa!

Silver Apples; o elixir da juventude




A sala do Music Box recebeu, há alguns dias atrás, um concerto que será certamente recordado com especial carinho por aqueles que tiveram o prazer de assistir.
Afinal não é todos os dias que temos à nossa frente os Silver Apples de Simeon Coxe III nascido em 1938, e que é actualmente o único membro daquele que era originalmente um duo, pois o baterista Danny Taylor já nos deixou há cerca de 12 anos. Assim, tivemos o privilégio de ver actuar ao vivo e bem de perto um dos músicos que mais influenciou a música ocidental.
Tocou para cerca de uma centena de pessoas, numa viagem a um mundo que já não existe ou que pode apenas ter existido na sua visão da música, materializada em dois álbuns editados no final dos nos 60 e outros dois após um hiato de cerca de três décadas, hiato esse que não modificou a visão de ambos e que continua a ser a visão de Simeon. Pela terceira vez em Portugal, Silver Apples vieram apresentar o álbum editado em 2016, Clinging to a Dream, onde Simeon continuou a viagem iniciada há quase 50 anos sem que se tenha sentido qualquer desvio da estética original. Simeon Coxe continua a deslumbrar, seja na viagem em que nos leva até às primeiras músicas dos Silver Apples, seja com as músicas que figuram em Clinging to a Dream.
É com uma impressionante candura que antes de começar a tocar lança para a plateia um sorridente “Escuse me whille i kiss the sky”, para logo de seguida nos trazer ” Walkin’” e “I Don’t Care What the People Say” que possivelmente reflectem um pouco o que Simeon e Danny terão dado como resposta a todos os que os haviam criticado pelo caminho criativo pelo qual enveredaram, muito virado para o experimentalismo e sobretudo pelo uso de instrumentos pouco habituais tais como aquele ao qual Simeon acabaria mesmo por emprestar o seu nome. 

Pudemos também ouvir “The Owl”, “Dust” e “You and I”, músicas de uma generosa complexidade sonora tocadas agora a duas mãos apenas, embora a presença de Danny Taylor perdure através das baterias sampladas que Simeon continua a usar. Apesar de ser notório algum esforço por parte de Simeon para cantar e manipular toda a parafernália de instrumentos que utiliza, a magia permanece quase intocada.
Houve ainda tempo para “Oscillations” e do mais recente registo “Missin you” e “The Edge of Wonder”. Um momento memorável para ser sentido em plenitude e sem preconceitos, para que se nos revele a magia que Simeon conduz e desafia ainda hoje muita gente a expandir os seus horizontes musicais. 

Os portugueses Gala Drop entraram bem em palco, agarrando o público que já se encontrava em maior número. Cativaram por trazerem uma sonoridade mais exótica e preenchida, que ao mesmo tempo poderia ser evocativa de algumas viagens a lugares distantes. Um concerto que fez dançar boa parte do público mas que ao cabo de meia hora não nos trazia nada de novo ou surpreendente a nível da actuação da banda. Apesar de produzirem um som bastante dançável, a pouca interacção com o público levou a que o mesmo se desligasse um pouco do concerto, apesar de continuar imerso nele e continuasse a noite como se a banda estivesse ausente em alguns momentos.
Os Ghost Hunt protagonizaram o último concerto da noite para uma plateia que se revelou atenta e receptiva. Uma actuação que foi crescendo à medida que o concerto foi avançando e o som encorpado e denso se foi estendendo a toda a sala. Caracterizados pelo baixo pulsado de Pedro Chau, que navega solto por vários quadrantes cósmicos e por vezes obscuros, assente na parceria com Pedro Oliveira remetem-nos para a descolagem de um qualquer vaivém espacial à descoberta dos confins do universo. Uma viagem num registo de confirmação em que se vê e sente a capacidade de produzir sonoridades cósmicas bem delineadas numa construção fina e suave nas suas variações mas ao mesmo tempo dura e áspera nas suas convicções e que não dá descanso aos corpos que ondulam no ritmo. 

Contas feitas ao final da noite contabilizam-se três concertos com alguns pontos em comum, mas suscitando cada um deles impressões e sensações diferentes, ora dando lugar a momentos mais evocativos ou contemplativos ora dando aos corpos novos mundos para dançar num momento em que o passado o presente e o futuro se parecem ter fundido numa demanda cósmica.

Podem ver a reportagem completa no Música em DX com fotografia do Daniel Jesus!

Rolando Bruno y Su Orquesta Midi - “Quiero ver Lisboa a Cumbiar!”




 Existem concertos felizes, existem outros que nos fazem felizes. Quando as ambas as situações convergem no mesmo evento podemos e devemos gritar aos quatro ventos essa felicidade. 
Foi o que aconteceu no passado dia 13 de Maio. Uma cadeia de acontecimentos felizes culminaram numa festa generalizada e terá tido o seu apogeu dentro do Sabotage Club ao som de Rolando Bruno Y Su Orquesta Midi. Pelo menos para os que lá estavam. 
Nesse dia em que o Benfica celebrou o Tetra, o Portugal católico a canonização dos pastorinhos, e quase todos se regozijavam com a conquista do primeiro lugar no Festival da Eurovisão, um evento que à maioria de nós nunca tinha providenciado qualquer alegria digna de nota, Rolando Bruno y Su Orquesta Midi proporcionaram uma das melhores festas de sempre. Foi o concerto certo para esse dia. 

A noite de festa começou com o concerto dos portugueses Môno que vieram apresentar o EP Ribamar lançado em Março deste ano e que em palco contaram com a participação de Alex Chinaskee. Criaram uma atmosfera pop com alguns salpicos de um experimentalismo muito próprio e animaram a festa com muitos amigos à mistura.
Também os Sunblossons de Alexandre Fernandes,  acompanhado por Luís (Alek Rein) na bateria, e Chaby (Mighty Sands) no baixo, continuaram o ambiente de festa. 
No entanto, e sem qualquer demérito às prestações anteriores, até porque sem elas a festa também não seria a mesma, foi Rolando Bruno com a sua cumbia psicadélica que quase deitou o clube abaixo.
Rolando Bruno criou a sua one man band por volta de 2005, como um projecto paralelo à banda, Los Peyotes da qual fazia parte. Nessa noite trouxe consigo Su Orquesta Midi. Trouxe também o extra terrestre que se alimentava de gatos e que nos anos 80 era presença regular na televisão portuguesa, Alf.  
Chegaram ao Sabotage já perto da hora do concerto, vindos da ilha de São Miguel, nos Açores, onde tinham actuado na noite anterior. Um rápido teste de som antes de vestir a rigor para a festa, e ei-los prontos para abalar este mundo e o outro.  

Na sonoridade de Rolando Bruno, que é natural da argentina, encontramos uma mui suigeneris e agradável mistura de Cumbia com outros ritmos quentes apimentados pelo psicadelismo.
Com apenas uma guitarra elétrica e a Orquesta Midi, Rolando viajou pelas suas músicas a uma velocidade estonteante e agitou a multidão, incitando-a à festa. Entre outras  “El Brujito Ramon”, "Eclipse Boliviano", "Fiesta Trashera", "Mi Cholita", e no final “Simpatia por el diablo” e “Lambada”, sorrisos em todas as caras, palmas, assobios e gritos, comboios de gente!!!!
“Quiero ver Lisboa a cumbiarrrrrr!!” E a Lisboa dentro do Sabotage Club cumbiou!! Podem ver a reportagem completa no Música em DX com fotografia da Vera Marmelo!