Na passada sexta-feira o Sabotage Club acolheu o primeiro concerto do Warm-Up para o Festival Reverence que este ano muda de localização e também de nome passando a denominar-se Reverence Santarém.
O público não acorreu massivamente, mas quem veio ver e ouvir a actuação a solo de David J, baixista e fundador de bandas como os Bauhaus ou os Love and the Rockets, não deu por perdido o seu tempo.
Era na verdade um
concerto para verdadeiros fãs, para quem entende a essência de David J.,
e o intimismo que a sala proporciona seria um dos aspectos mais
atractivos da situação. Afinal não é todos os dias que temos os mitos ao
alcance da mão.
David J. e a sua guitarra a sós no palco do Sabotage,
que apenas tinha uma mesa para apoio do cantor pareciam demasiado sós. O
público chegou-se bastante perto à beira músico que escreveu Bela
Lugosi’s Dead e dele esperou nada mais que a sua entrega num périplo que
faria de forma equilibrada entre a sua carreira a solo e as suas
colaborações mais conhecidas.
Who Killed Mr. Moonlight abriu o concerto, dando ao
público o que ele queria, a confirmação absoluta de que se tratava de
David J, como se ter alguém como ele ali a menos de um metro de
distância fosse difícil ou quase impossível. Mas não foi e David J.
mostrou-se bastante comunicativo e com um humor bastante leve contando
histórias sobre as músicas que havia escolhido e relembrando outras
sobre a sua vida de músico. Goth Girls in Southern California trouxe
sorrisos aos presentes, enquanto a música que David J. conta ele que a
compôs na noite em que David Bowie morreu, Where Were you The Day David
Bowie Died, trouxe um certo sentimento de nostalgia e estamos em crer
que muitos dos que ali se encontravam terão recordado o momento em que
souberam do desaparecimento de David Bowie.
Momentos de nostalgia pura em que trouxe para esta
roupagem acústica músicas dos Love And The Rockets, e mesmo uma versão
de uma música dos The Replacements.
David J, remete-nos sem qualquer sombra de dúvida a
todo o universo Bauhaus e toda a essência desse noir tão evidente nas
letras, mas a nudez das músicas, a simplicidade do homem e da guitarra,
levou a que o público se dispersasse em alguns momentos e a atmosfera se
tornasse demasiado barulhenta.
Se substituíssemos a guitarra de David J. por uma
banda, com bateria baixo e guitarras é quase certo que a sala teria
vibrado de forma diferente. Mas talvez David J. já não queira isso e
esta sua forma de se expressar musicalmente seja reflexo de muitos anos a
fazer muitas coisas que o levaram a este caminho, que quem acompanhou
sem hiatos compreenderá decerto muito melhor do que aqueles que apenas
reconhecem David J. pelos seus trabalhos de Bauhaus ou Love and The
Rockets.
Senhor de um bom humor cativou-nos a simplicidade com
que se equilibrou nas suas escolhas e nas suas conversas, mas não
convenceu totalmente. A guitarra de David J., não chega para a energia
que ele ainda tem nele, não é suficiente.
David J. deixou-nos na boca um travo amargo, uma
sensação de perda, porque ficámos naquele limite em que no peito nos
bate o som cru, mas na verdade não atravessa, apenas nos toca ao de
leve.
Mas é um Warm-Up. O Reverence está mesmo aí a chegar e o que este
concerto nos mostra mais uma vez é que o Reverence é um festival de
muitos públicos. Não se fica por uma franja do rock mais underground,
acabando por ser transversal e cheio de surpresas.
Texto - Isabel Maria
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