É possível que o tempo que demoram a ler esta entrevista aos Mythic Sunship
seja inferior ao tempo da maioria das músicas por eles feita. Os 4
dinamarqueses que dão pelo nome de Mythic Sunship estão a poucos dias de
lançar o seu quarto álbum pela editora El Paraiso Records, Upheavel.
Desde 2010 que Emil (Guitarra), Frederik (guitarra), Kasper (bateria)
tocam juntos, mas foi a entrada do baixista, Rasmus em 2014, que os
levou um pouco mais além. Desde 2015 tem vindo a conseguir aprimorar a
complexa mistura de influências que cada disco comporta, recheado com
uma forte componente de improvisação que foram beber a géneros diversos,
para nos proporcionarem viagens completas aos sítios mais recônditos do
universo. Descrevem a música que criam como Anaconda rock.
Uma viagem intensa, plena e cheia de
sensações tão familiares mas ao mesmo tempo de total descoberta e
renovação é isso que nos espera dentro de cada registo dos Mythic
Sunship.
A reter; Upheavel estará disponível
dentro de dias. Por enquanto temos para ouvir Cosmic Rupture, que
claramente confirma que o caminho trilhado até aqui pelo quarteto de
Copenhaga ainda agora começou.
Isabel Maria – Podem apresentar a banda aos nossos leitores?
Emil – Os Mythic Sunship são Kasper e Emil na guitarra, Rasmus no baixo e o Frederik na bateria.
Isabel Maria – Como se formaram os Mythic Sunship?
Emil – O Kasper e o
Frederik tocam juntos desde os tempos de escola e nós os três tocamos
juntos desde 2010. Fomos tocando de uma forma um pouco intermitente
durante um par de anos até que o Rasmus se juntou a nós no fim de 2014.
Ter um baixista foi o catalisador para os anos productivos que temos
tido desde aí.
Isabel Maria– Como escolheram o
nome para a banda? Li algures que está relacionado com um álbum do John
Coltrane e outro do Sun Ra, mas faltavam umas peças na história…
Emil – Haaaa!….Mesmo
gostando dos 2, as referências ao Coltrane e ao Sun Ra não foram
intencionais! Quando a El Paraiso Records o mencionou na press release
para o Ouroboros, começou a aparecer em todas as reviews do disco. Não
me lembro como chegámos a este nome. Acho que passámos por 500 nomes
diferentes até chegarmos a um que nenhum de nós detestasse.
Isabel Maria– E como chegaram à El Paraiso Records?
Emil – A Dinamarca é um
país relativamente pequeno, especialmente a cena musical, então todos
conhecíamos o Jonas Munk da El Paraiso Records. O Frederik gravou um
disco com a sua antiga banda os Bright Kids no estúdio do Jonas. Depois
do Ouroboros ser misturado, enviámos para a El Paraiso com a esperança
que tivessem interesse no seu lançamento e…. aqui estamos nós!!!
Frederik – Sim, eu
conheço o pessoal da El Paraiso (Jakob Skott e o Jonas Munk) há alguns
anos. Penso que desde que começámos tivemos o sonho de lançar a nossa
música com o selo deles. Eles gerem uma editora com seguidores muito
dedicados e porque são tão focados na qualidade é como receber um selo
de aprovação ao ouvi-los dizer “ Sim, curtimos a vossa cena”.
Isabel Maria– Podem explicar-nos o vosso processo criativo?
Emil – Uma ideia pode
ser “ todos começam a 100%, completamente fora de tom e depois a certo
ponto procuramos encontrar um groove baseado no MI” ou “o Kasper toca
uma melodia pesada cheia de delay em Lá maior que o Frederik junta uma
batida estilo motorik”. Ao fim de 1 minuto de música, tudo é 100% de
improviso. Quando gravamos, normalmente temos algumas ideias que
queremos experimentar e outras coisas acontecem ao acaso. Por exemplo, a
música Nishapur do Land Between Rivers foi só num take em que a única
coisa que estava decidida era que eu ia tocar uma sucessão de 2 acordes
que soassem vagamente como uma música dos Fushitsusha.
Isabel Maria – Quais são as vossas maiores influências?
Emil – Basicamente
qualquer banda que incorpore improvisação na sua música, desde o Free
Jazz até à música electrónica e tudo o que fique no meio. Bardo Pound,
Can, Manuel Göttsching, Sonny Sharrock e os Greatefull Dead são as
minhas principais inspirações.
Frederik – Eu sempre
fui um grande fã de jazz e sei que o Rasmus também. Para mim pessoas
como o John Coltrain e o Pharaoh Sanders são muito maiores inspirações
que qualquer banda de rock, mas depende a quem perguntares na banda.
Seria tolice negar a influência de bandas como os Earthless, Sleep ou
Jimi Hendrix, por isso acho que é uma mistura mas com um peso diferente
entre cada um de nós. Vamos gravar o nosso 4º disco em Dezembro e posso
dizer que as influências do jazz serão mais óbvias neste disco.
Rasmus – É claro que
que tenho muita influência dos grooves do rock clássico como os The
Stooges, Black Sabbath, Jimi Hendrix ect. E também bandas de jam como os
Hawkwind ou os Grateful Dead como referiu o Emil ou bandas alemãs e
japonesas da cena do prog e improviso dos anos 70, mas também muita da
inspiração vem do jazz, a maneira de estruturar as músicas, a mistura de
vários instrumentos a solar e a dar espaço para os outros ao mesmo
tempo. Gosto de pensar que somos uma banda de improviso com uma
instrumentalização rock. Somos mais que uma banda rock assim dizer.
Emil – Acho relevante
dizer que tocamos música (e instrumentos) muito diferente fora da banda.
O Rasmus toca saxofone num duo de jazz, o Frederik faz música ambiente,
o Kasper faz umas brincadeiras com sintetizadores e eu tenho um
projecto de electrónica. Mas a formação de 2 guitarras, baixo e bateria
obviamente vem do rock. Gosto de pensar que a nossa música reflecte o
largo espectro musical em que nos englobamos como músicos e como
ouvintes.
Isabel Maria– Se tivessem uma máquina do tempo, com quem, quando ou onde gostariam de tocar?
Emil – Não vou mentir,
gostaria de fazer de banda suporte dos The Greatful Dead no concerto no
Chateau d’Herouville em 1971…. ou tocar num daqueles concertos dos Can
nos bons velhos tempos.
Frederik – Com o John
Coltrane Quartet no concerto no Half Note em 1965. Seria um bocado
ridículo se pensares mas, aquele concerto foi a performance mais marada
alguma vez gravada ao vivo.
Rasmus – Ou abrir para
os Black Sabbath no seu primeiro concerto em Paris em 1970. É capaz de
ser um dos momentos mais vitais na história do rock.
Isabel Maria – Já estiveram em Portugal? Conhecem alguma banda Portuguesa?
Emil – Sim. Já estive
no Porto, Lisboa e Faro este verão e adorei! Não posso dizer que conheço
muitas bandas Portuguesas mas gosto muito do Norberto Lobo.
Isabel Maria– Estão actualmente em tour ainda por conta de Land Between Rivers. Como está a correr?
Emil – Tocar ao vivo é
sempre bom mas, ainda não fizemos tantos concertos como gostaríamos. Mas
isso está para mudar em 2018. Estamos prontos para a Tour Europeia em
Abril.
Isabel Maria – Como descreveriam a vossa música para os nossos leitores que nunca vos ouviram?
Frederik – Anaconda rock: Grande e pesado e uma metáfora para um grande e longo charro.
Emil – Eu tento
explicar que durante uma peça de improviso com mais de 10 minutos pode
parecer avante-Gard e inacessível, mas que realmente não é. Gosto de
pensar que as pessoas que não costumam ouvir música experimental podem
por um disco dos Mythic Sunship e gostar dele.
Isabel Maria – Um desafio agora. Podem identificar 2 músicas novas ou antigas que de alguma maneira vos causaram boa impressão?
Emil – Sonny Sharrock – Many Mansions é uma música a que gosto sempre de voltar. Consegue ser pesada e ao mesmo tempo muito fluida.
Eric – Morning Lighthouse provavelmente contabiliza 50% da minha air guitar durante todos estes anos o que quer dizer muito tempo!
Frederik – Não é bem
uma música, mas a 1ª vez que o Jazz de improviso fez clique foi quando
ouvi o The Olatunji Concert com o John Coltrane. Aquele concerto é
completamente fora!! Foi apenas 3 meses ante do Coltrane morrer e quase
que o consegues ouvir na música. Também tenho que falar do Rip Tide dos
Causa Sui. Quando eles a tocaram no Summer Sessions 2 e 3 ninguém esteve
tão perto de encaixar aquela perfeita mistura entre o riff do rock e o
sax do free jazz! Toda a gente ou está do lado do muito pesado ou do
muito jazzy mas, eles acertaram!!!!
Rasmus – Isso é
difícil…. o minimalismo Americano, o inicio dos blues, free jazz, música
do norte de África, cantores e músicos de todo o lado deixaram-me com
experiências musicais bastante profundas. Enquanto artistas gosto dos
Velvet Underground, Kate Bush, Elvis Presley, Otis Redding, Joni
Mitchell, Beach Boys, Talking Heads e Michael Jackson…vão comigo para
todo o lado. Acho que há uma razão para eles serem tão clássicos. Mas
quando estou mais em baixo tenho que pôr os Creedence Clearwater Revival
e ir até lá acima. Algumas das minhas células necessitam daquele
material para continuarem vivas.
Isabel Maria – Obrigada pelo vosso tempo e aguardamos a chegada de Upheavel a 12 de Janeiro e um concerto em Portugal para breve!
+info em elparaisorecords.com | facebook.com/mythicsunshiphttps://www.musicaemdx.pt/2018/01/09/mythic-sunship-anacondas-tambem-voam/
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