Estivemos à conversa com a Patricia Andrade, vocalista dos Sinistro que vão actuar no Reverence Santarém
em 2017. Os Sinistro já existem há algum tempo. Não são propriamente a
novidade do momento, mas na verdade são. No seu primeiro registo de
2012, o álbum homónimo, os Sinistro eram três músicos: Rick Chain
(guitarrista), Fernando Matias (baixo/produtor) e Paulo Lafaia
(baterista) e viveram uma primeira vida completamente instrumental. O Ep
Cidade trouxe a vontade de fazer mais e fazer diferente, e Patricia
Andrade passou a dar a voz ao caos ordenado do trio, primeiro a título
de convite, mas depois integrando em definitivo o projecto, que pouco
depois voltou a crescer e acolheu Ricardo Matias (guitarrista), sendo
esta a formação que gravou o segundo disco em 2016 e tem andado em tour
nos últimos 18 meses.
Este fim de semana poderemos vê-los ao
vivo na madrugada de sexta-feira no Reverence, decerto em todo o seu
esplendor cénico e sonoro. Estivemos à conversa com a Patricia Andrade
que nos falou um pouco sobre a jornada atípica e feliz dos Sinistro.
Isabel Maria – Como é que os Sinistro
surgiram? Sabemos que entraste mais ou menos a meio do percurso e os
Sinistro já tinham gravado um primeiro álbum.
Patricia Andrade – Ouvi dizer que eles
estavam no estúdio, o Fernando Matias, o Ricardo e o Paulo. Foi qualquer
coisa espontânea, tipo vamos começar aqui a fazer uma coisa e a partir
dai eles começaram a desenvolver, mas creio que foi bastante espontâneo,
salvo erro foi em agosto, e a ideia não era a de ser uma banda para
tocar ao vivo, era uma banda apenas para estúdio para lançar discos mas
apenas estúdio, com uma certa componente cinematográfica. O primeiro
álbum completamente instrumental mas já se entrevem uma certa imagética
uns ambientes muito próprios dessa ideia.
Depois o Ep…eu estava na altura com
Pedro e os Lobos e o Ricardo foi ver um concerto a Almada e umas semanas
mais tarde o Fernando Matias e o Rick encontraram se comigo fomos tomar
um café e disseram-me que gostavam que eu participasse no EP. Deram-me
total liberdade para eu fazer o que quisesse e eu fiquei bastante
agradada com a ideia que para mim era um desafio. Musica pesada ou estar
num projecto de musica mais pesada….Já tive alguns projectos mas não
dentro deste género mais pesado. Os dois temas já estavam praticamente
compostos, entregaram me os temas e eu sobre os temas escrevi e fomos
para estúdio. Foi assim também bastante espontâneo.
Isabel Maria – Criaste a tua interpretação da sonoridade deles, deste a voz e as palavras ao que eles haviam composto.
Patricia Andrade – Sim, e escrevi sobre
os sítios para onde aquele som me remetia, para que ambiente viajava, e
também já achava que era muito cinematográfico, muito ambiental.
Isabel Maria – Continuam a tocar as
faixas do primeiro álbum que são instrumentais. Houve mesmo uma nova
construção, mas não se dissociaram do que já tinham feito.
Patricia Andrade – No ano passado
tocámos uma das faixas e sim permanecem instrumentais. O EP eu ouvi e
quando fomos para estúdio e já ia com algumas ideias, algumas ideias de
até onde poderia entrar, ou onde é que a voz se poderia encaixar nas
partes mais melódicas, respirar nas partes mais densas e pesadas, mas
foi muito depois na altura no momento de estúdio que aconteceu e acabou
por ser um bocado improviso que é algo que me desafia muito. E eles
deram-me muito espaço para isso.
Isabel Maria – Incentivaram-te a criar o teu próprio espaço na banda.
Patricia Andrade – Sem dúvida! E isso para mim foi o mais interessante e o mais desafiante.
Isabel Maria – Qual é a origem do nome?
Patricia Andrade – Pelo que sei, creio
que foi quando eles estavam em estúdio quando surgiu a ideia do
projecto. Um deles disse “Ah isto é sinistro!”, foi uma palavra que
saiu, “ah Sinistro”. Ok Sinistro. Acho que foi assim… eu não estava lá.
Isabel Maria – Ficaram surpreendidos com a receção do público em lá fora?
Patricia Andrade – Já tínhamos feito o
concerto no Sabotage em abril do ano passado, que foi o primeiro
concerto antes de irmos em tour. Esse foi o primeiro contacto e foi
muito impactante porque foi muito caloroso e foi importante para nós
porque saímos com uma energia brutal, íamos cheios. De repente estamos a
dar o primeiro concerto e está uma sala cheia e vais com uma energia
bastante grande para enfrentar tudo.
Isabel Maria – De repente passam de uma
situação em que não aparecem ou aparecem esporadicamente para passar a
aparecer lá fora, muito mais até do que aqui em Portugal!
Patricia Andrade – Houve momentos muito
importantes que impulsionaram isso. O Roadburn que é um festival que já
tem um nome muito conceituado, é um cartão de apresentação para as novas
bandas e para nós foi completamente surpreendente porque pensámos “Uau
vamos ao Roadburn e ninguém nos conhece!..” Estávamos a espera de ter
uma sala morninha, mas a sala estava cheia e foi muito emocionante. Foi
mesmo emocionante e não estávamos a espera do que aconteceu. Antes do
Roadburn ainda fizemos algumas datas com os Cult of Luna o que também
fez com que houvesse muitas pessoas curiosas e muitas pessoas que
passaram a conhecer-nos através dos Cult of Luna.
Isabel Maria – Como é que surge a tour com os Paradise Lost?
Patricia Andrade – Ficámos logo muito
surpreendidos quando saiu o vídeo Relíquia. O vocalista de Paradise
Lost, elogiou, e nós até pensámos que era uma brincadeira, e ficámos
boquiabertos. É uma referencia dentro desta música, incontornável.
Isabel Maria – Já tem coisa novas preparadas, músicas ou ideias?
Patricia Andrade – Está fechado. O disco
está terminado e contamos que saia no primeiro trimestre de 2018, após
esta tourné com Paradise Lost. Esta grande jornada que vamos ter.
Isabel Maria- Quem está por detrás da concepção das vossas capas?
Patricia Andrade – Creio que tem sido tudo obra do Pedro Carmo.
Isabel Maria – A tua performance tem uma
componente muito cénica. Mas a própria música mesmo antes de teres
entrado nos Sinistro tinha já um tom dramático no sentido de associado
ao cinema enquanto arte…assim como as fotos e os vídeos, todos os
elementos contam uma história, dentro da música.
Patricia Andrade – Uma vez
perguntaram-me “Mas os teus movimentos é tudo ensaiado, como é que
ensaias? Treinas e coreografas para o palco?”
Não de todo, aconteceu foi uma coisa
espontânea e todos os concertos são diferentes, a primeira saiu-me e eu
percebi que era aquele o caminho mas não está pensado. Acontece quase
sempre de forma diferente em cada concerto.
Remetendo a ideia da estética dos vídeos
e das fotos, as pessoas que colaboraram connosco compreenderam-nos na
totalidade. Nos vídeos foi o José Dinis dos Dollar Lama. É importante
que as pessoas que trabalham connosco compreendam a nossa linguagem e
compreendam o que estás a sentir e o que queres transmitir. As fotos são
da Joana que também tem um imaginário muito interessante e consegue dar
algum certo ar misterioso e ela também conseguiu perceber o que é que
nos queríamos muito embora seja a estética dela. Tratam-se de diálogos e
encontros que resultaram muito bem exactamente por isso. As linguagens
tocaram-se com o nosso universo mas foi também uma coisa que aconteceu.
Nós vamos reunindo isto, como se fossemos fazendo um puzzle, e as peças
vão aparecendo e vão encaixando.
Isabel Maria – Quem consideras serem as
vossas maiores influências, ou o que é que consideras como referência e
que te levou a este sitio onde estás actualmente?
Patricia Andrade – Tanta coisa, tanta
coisa, e às vezes não só na musica, nos livros no cinema e andar na rua e
ver as pessoas são as experiências pessoais e profissionais. Não
consigo enumerar-te ou dizer-te o que é e não quero estar a responder
por eles. Cada um de nós tem um universo próprio, somos cinco pessoas e
ao mesmo tempo somos todos diferentes e talvez por isso a nossa
sonoridade seja assim porque temos todos vivências bastante diferentes.
Eles tem um registo mais aproximado uns com os outros porque
inclusivamente já tiveram bandas anteriores em conjunto e eram sempre
sons mais pesados e eu de certo modo vim ali cair de para-quedas.
Isabel Maria – Como é a vossa vida fora dos Sinistro?
Patricia Andrade – O Fernando Matias
tem um estúdio, o Ricardo Matias trabalha numa área que não a música e o
Rick e o Paulinho estão ligados a outros projectos, tem Besta, mas se a
pergunta se é se vivemos da música, não….
Isabel Maria – Conseguem conciliar bem
as vossas outras obrigações profissionais com os compromissos cada vez
mais exigentes que a banda tem vindo a assumir?
Patricia Andrade – Tem de de ser com
muita vontade e com calendário e horários rigorosos mas sobretudo com
muita vontade, de outra forma dispersas-te. Vais em tour tens de deixar
tudo mais ou menos programado para poderes ir em tour. Tem de haver
muito foco e concentração. Preparamos a tour e vamos tentando todos
fazer e dividir varias partes do trabalho que isso implica.
Isabel Maria – Com quem gostarias de partilhar o palco?
Patricia Andrade – Nick Cave and the Bad Seeds…PJ Harvey, Iggy Pop, Swans…
Isabel Maria – Há dois ou três anos imaginavas que em 2017 irias estar a fazer a primeira parte dos concertos dos Paradise Lost?
Patricia Andrade – Há três anos nem sonhava que estaria a fazer tours internacionais.
Isabel Maria – Tem alguma coisa pensada para o Reverence?
Patricia Andrade – Estamos preparados para estar lá e partilhar.
Isabel Maria– Já estiveste em alguma das edições anteriores do Reverence?
Patricia Andrade – Não. Este ano vai
ser a primeira vez. Já me disseram que é um festival especial, ainda
pensei ir no ano passado mas estava a trabalhar. Vai uma estreia a
duplicar!
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