Songs To Nowhere#109#Trendkill Radio#6.09.2021

Mostrar mensagens com a etiqueta Sonicblast Moledo'17. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Sonicblast Moledo'17. Mostrar todas as mensagens

Entrevista a Orange Goblin no Sonic Blast Moledo'17, Os gigantes gentis

Aproveitámos a visita dos Orange Goblin ao SonicBlast em Moledo no passado mês de Agosto para uma conversa informal com os elementos da banda.
No activo desde 1995 e com mais de uma dezena de álbuns, Ep’s ou colaborações com bandas como os Alabama Thunderpussy ou Electric Wizard, continuam a fazer uma festa por onde passam com a alegria contagiante com que se tratam e se dão ao público.
Uns autênticos senhores, simpáticos e divertidos a viver a vida um dia de cada vez e a aproveitar o melhor que esta tem para lhes oferecer.
Falámos da sua recente nomeação para melhor banda do Reino Unido, algo que não os parece ter impressionado muito, porque esse não é o seu objectivo. Foi uma conversa barulhenta com os Sasquatch na mesa do lado a trocarem galhardetes com os Orange Goblin, divertidos e sorridentes.
Um daqueles momentos plenos de felicidade no cenário idílico de Moledo onde actuaram nessa noite no palco principal.

Isabel Maria – Estamos muito felizes por ter Orange Goblin de volta a Portugal e desta vez em Moledo! Acabaram de chegar?

Orange Goblin  Não, não, chegámos por volta das dez da manhã, mas como não podíamos fazer check in logo, ficámos por ali mesmo a relaxar.

Isabel Maria – Gostaram da paisagem e das praias?

Orange Goblin – Só passámos pelas praias, não deu para ver muito bem, mas pareceram-nos muito aprazíveis.

Isabel Maria – Vi uma entrevista vossa há algum tempo em que falavam de terem sido nomeados para um prémio…podem falar-nos um pouco sobre isso?

Orange Goblin – Sim, fomos nomeados para melhor banda do Reino Unido, mas não ganhámos…afinal somos só uma banda do Reino Unido, não somos a melhor banda do Reino Unido…(Risos)

Isabel Maria– Mas terem sido nomeados significa que existe reconhecimento por parte do público do vosso valor e do vosso papel na música nos últimos 20 anos. Isso também é bom!

Orange Goblin – Andamos nisto há cerca de 22 anos, e sim de facto é sempre bom ser nomeado, ser reconhecido. Até porque havia lá bandas com uma presença muito maior que a nossa nos meios de comunicação e na internet, e o voto é do público.

Isabel Maria – No fundo a escolha está directamente relacionada com a visibilidade e a presença nos media, mas não foi o público que vos nomeou, certo?

Orange Goblin – Não, não, foi a revista. E isto decerto que está relacionado com a cena da Metal Hammer. Nós ajudámos a recolher fundos quando eles perderam a revista e os trabalhos deles. Angariámos bastante para os apoiar e no fundo acho que é um agradecimento público deles. Mas não há problema.

Isabel Maria – E porque haveria de haver problema?

Orange Goblin – Ah é porque somos fantásticos isso é de certeza!!! Se não prestássemos para nada eles não nos nomeavam, não é? Mas não ligues é que sempre fomos um bocado auto depreciativos da nossa cena…é uma cena nossa.

Isabel Maria– Mas se andam aqui há 22 anos a dar-nos música de certeza que estão a fazer isto bem!

Orange Goblin – ou estamos a fazer qualquer coisa bem ou não estamos a fazer nada  bem, que é na realidade o que fazemos bem, que é fazer tudo mal! Se estivéssemos a fazer bem já não o estaríamos a fazer ao fim de 22 anos.

Isabel Maria– Nesse caso ainda estão a aperfeiçoar?

Orange Goblin – Sempre!!!



Isabel Maria – O vosso último disco, Back from the Abyss saiu em 2014, já tem planos para um sucessor?

Orange Goblin – Nós temos as gravações mais ou menos marcadas para Janeiro de 2018 para lançar  em Maio ou no início do verão… esperamos conseguir escrevê-lo porque por enquanto só temos algumas ideias, talvez o esboço de umas quatro ou cinco músicas. O disco deve ter umas oito ou nove por isso….estamos lançadissimos e está tudo a correr lindamente!
A questão não é escrever e compor…nós até escrevemos bem, mas apenas sob pressão.

Isabel Maria – A pressão de cumprir um prazo ajuda?

Orange Goblin – Nós sabemos que vamos estar no estúdio num determinado dia, e deixamos tudo suspenso até ao ultimo minuto, sempre a queimar os prazos. Mas é a forma como funcionamos melhor. Sempre foi.

Isabel Maria  – Isso reflecte-se também no vosso estilo e na vossa forma de estar?

Orange Goblin – Sim, não gostamos de fazer músicas e deixá-las andar até gravar passado um ano…porque senão quando as gravamos já estamos completamente fartos daquilo.

Isabel Maria – Como se já não vos fizesse qualquer sentido?

Orange Goblin – Um bocado isso também, porque já não estamos a sentir a mesma coisa, porque já não é aquilo que queremos dizer, ou simplesmente porque já não é novidade!
E quanto mais cedo começamos mais alterações fazemos porque depois estamos sempre a mexer e a alterar coisas…e quando gravamos aquilo já não tem nada a ver com a ideia inicial.
Assim é mais excitante; dizem-nos: “Tem dois meses para gravar isto!” E nós gravamos. É mais fresco, mais excitante correr contra o tempo.
Gostamos de fazer as coisas sem pensar demasiado nelas.

Isabel Maria  – Estiveram cá em 2015 no RCA em Lisboa…
Orange Goblin – Yeah!!! Foi espectacular! Foi a única data em Portugal nessa tour e o público fez daquilo uma festa brutal!!! Por isso é que gostamos de voltar cá!

Isabel Maria – Temos imensa gente à vossa espera hoje!
Orange Goblin – Ah Já descobriste o truque da pressão! (Risos)

Isabel Maria – E estão a gostar de Moledo?

Orange Goblin – Sim! O ambiente é espectacular! Vê-se que está toda a gente a adorar! O sitio é lindíssimo…e nós não temos vontade nenhuma de ir embora amanha! Acho que nos vamos mudar para cá …(risos), toda a gente parece relaxada e completamente dentro do espírito do festival. Estão cá 4000 pessoas, ouvi dizer que começaram há sete anos com cerca de 250 pessoas, vê-se que estão todos felizes e é óptimo fazer parte de um evento destes!

Isabel Maria – Sim está esgotado! Conseguiram ver alguma banda hoje?
Orange Goblin – Íamos ver os Sasquatch, mas mandaram-nos vir comer! (risos)

Isabel Maria– Algumas palavras para o público que vos aguarda daqui a pouco?
Orange Goblin – Obrigado! Temos sido sempre muito bem recebidos em Portugal! Provavelmente não vimos cá tantas vezes quantas as que os fãs desejariam mas sempre que voltamos é uma loucura!

Isabel Maria – Obrigada pelo vosso tempo e até já!!



Entrevista aos Elder, de Massachussetts até Moledo foi um longo caminho

A meio do SonicBlast Moledo tivemos a fantástica oportunidade de falar com o Nicholas DiSalvo e o Jack Donovan, respectivamente guitarrista/vocalista e baixista dos norte-americanos Elder que foram cabeças de cartaz da primeira noite do festival.



Há já algum tempo e com alguma expectativa se aguardava a estreia do trio agora quinteto, americano em terra lusas, tendo inclusivamente existido uma data em 2015 que acabou por ser desmarcada por motivos alheios à banda.
No activo desde 2006 e com 4 discos editados, o último Reflections of a Floating World em junho deste ano, foi com o concerto da noite anterior que encerraram a tour, num misto de emoção e realização. Na verdade todo o concerto se assemelhou a uma quebra no ciclo viciante que são os Elder.

Encontrámo-los no espaço que a organização do SonicBlast disponibilizou para press center, descontraídos e a observar com alguma curiosidade os livros que aí se encontravam e tivemos um momento de conversa informal e divertida, sobretudo com a intenção de conhecer melhor as pessoas por detrás da muralha sonora que são os Elder.
 
 Isabel Maria – Como tem estado? A espera por um concerto dos Elder em Portugal foi longa! Como sentiram o concerto de ontem?

Elder – Fantástico. Nós sabemos disso, e também sentimos um pouco essa antecipação. já viajámos por quase toda a Europa e Portugal era um dos poucos países onde ainda não tínhamos tocado. Sentimos essa antecipação por parte do público e divertimo-nos imenso.

Isabel Maria – Os Elder andam a tocar e a editar discos desde 2008. Na altura em que começaram alguma vez vos passou pela cabeça que as coisas iriam atingir esta dimensão?

Elder – Nunca!! Acho que nem conseguíamos. Éramos miúdos a tocar na cave das casas dos nossos pais, éramos uns miúdos de secundário normalíssimos. Estávamos naquele ponto das nossas vidas em que tínhamos a vida à nossa frente e toda a gente esperava que fossemos estudar e arranjássemos um emprego….e nessa altura até podes sonhar em tocar e tudo o mais, mas na realidade achávamos que isto era impossível…. É como quando gostas de jogar à bola mas não esperas tornar-te um jogador profissional.



Isabel Maria – Neste momento a música é a vossa principal ocupação?

Elder – Sim….sim é! Quer dizer nós não ficamos por aí sem fazer nada em casa à espera quando não estamos em tour. Fazemos bastantes tournées e aí isto torna-se a nossa ocupação principal mas não porque não queremos trabalhar…na verdade acho que todos temos outras ocupações.

Isabel Maria – Mas a música também é um trabalho!?

Elder – Sim claro! Só que é um trabalho divertido! Realmente divertido! Nós não andamos em tour doze meses por ano, normalmente andamos em tour cerca de quatro meses…mas ainda assim temos de fazer qualquer coisa durante os restantes oito meses.

Isabel Maria – Mas actualmente é a vossa ocupação principal! Que outras ocupações ou trabalhos preenchem o vosso tempo quando não estão em tour?

Elder – Coisas relacionadas com a banda.. Eu trabalho para a nossa editora ( Nicholas ), o Jack faz alguns trabalhos de áudio e é canalizador. O nosso baterista tens uns trabalhos estranhos e é dono de uma loja de bebidas.

Isabel Maria – Neste álbum tem dois músicos convidados. Esse crescimento influenciou este trabalho?

Elder – Influenciou. Nós já tínhamos uma certa ideia de trazer outros músicos que pudessem adicionar diferentes texturas ou instrumentos ao álbum, como o Mike, que tocou Pedal Steel Guittar em algumas músicas do disco e ao acrescentarmos alguns instrumentos que nunca se tinham ouvido nas nossas músicas as coisas mudaram um pouco. Um dia gravámos uma jam de cinco horas e pensámos que iríamos aproveitar muito desse material no disco mas no final acabámos por usar muito poucas dessas coisas. Acabámos por ficar com imensa música e ideias…Talvez para usar mais tarde.
Tem sido muito bom termos mais dois músicos connosco. Foi óptimo termos dado este passo em frente e passar de um trio a um quinteto.



Isabel Maria – Como é que se conheceram?

Elder – O Michael Risberg que é quem está a tocar a guitarra e teclas, andou comigo ( Nicholas ) na universidade e tocámos junto numa banda chamada Gold & Silver. Há uns anos atrás gravámos um disco para uma editora francesa…o Michael Samos é gerente da loja de guitarras da nossa cidade natal e eu vou lá todas as semanas. É um tipo super simpático e um dia convidámo-lo para uma jam.

Isabel Maria– Um processo natural portanto, certo?

Elder – Sim. E com pessoas que conhecemos e com quem temos laços de amizade e coisas em comum.

Isabel Maria - O nome do vosso novo álbum, soa vagamente a uma declaração de intenções ou um conselho, ou quem sabe advertência. É essa a intenção?

Elder – Sim, penso que tem vagamente o seu quê de advertência, mas cada um pode interpretá-lo à sua maneira.
Eu gosto de pensar que as músicas refletem coisas que vivenciei na minha breve vida. Mas especialmente que refletem coisas e eventos desde que a banda começou. E cada música é uma música e fala por si.

Isabel Maria – Quem fez a capa do vosso disco?

Elder – O nosso bom amigo Adrian Dexter faz a maioria das nossas ilustrações e t-shirts. Existem outros artistas com quem colaboramos mas é o Adrian que faz quase tudo, principalmente as capas. Crescemos com ele e agora ele vive na Dinamarca onde trabalha em animação, mas todos os anos ele faz uma pausa no trabalho dele e faz parte da tour connosco a fazer projeções durante os nossos concertos. Infelizmente ele não pode vir connosco desta vez. Talvez para a próxima.

Isabel Maria – Quais são as bandas que consideram ser os vossos clássicos. Aquelas que fazem parte da vossas escolhas desde sempre ou às quais retornam sempre?

Elder – Vengaboys!! !!! Definitivamente! (Risos) E ora bem clássicos…eu ando a ouvir os mesmo discos desde os 15 anos mas talvez Motorpsyco, Thin Lizzy os Yes….eu oiço tanta musica que torna-se muito difícil escolher…



Isabel Maria – E coisas mais recentes ou que vos tenham despertado a atenção recentemente?

Elder – Ah…Não sei! Essa é aquela pergunta mesmo difícil e embaraçosa…
Não ouvimos assim muita coisa recente mas os Weedpecker, uma banda polaca fantástica, ou os Papir, outra banda fantástica, o SonicBlast deveria trazê-los para a próxima edição. Outra banda fantástica são os NeedlePointe, uma cena mais prog rock e um tanto ou quanto obscura.

Isabel Maria – Vão ficar para ver alguns concertos?

Elder – Dois terços de nós vão ficar! (Risos)

Isabel Maria – Algum concerto em especial agora durante a tarde no palco junto à piscina?

Elder – Há um palco junto a uma piscina? Vamos ter de ir ver isso melhor!

Isabel Maria– Algumas palavras para o público do SonicBlast?

Elder – Sejam excelentes uns para os outros e divirtam-se!!!!!!



SonicBlast Moledo’17 Dia 11, de Moledo ao Espaço em 12 concertos

A espera terminou. É sexta-feira. A temperatura subiu, o vento parou e cada vez mais gente sobe as ruas que vão dar à piscina de Moledo onde os concertos começam por volta das 13.30. O SonicBlast está prestes a começar. Nas próximas 36 horas iremos ver 24 bandas com uma pausa para descanso. A bilheteira encontra-se repleta de gente a trocar bilhetes por pulseiras, numa azáfama estranhamente coordenada. O Sonicblast voltou a esgotar. O que não era difícil de adivinhar tendo em conta o cartaz que apresentaram para 2017.
Novamente a apostar em doses equilibradas em bandas recentes e bandas consagradas e com um leque de estreias que nos obriga a parar para pensar, um cartaz com espaço para várias sonoridades dentro do espectro a que se dirige… Perguntamo-nos se teremos a habilidade de sentir tanto de tantas formas em tão curto espaço de tempo. As zonas envolventes encontram-se agora repletas de gente, mas não daquela forma que não nos permite fazer nada a não ser seguir atrás uns dos outros. Ou seja, apesar de verificarmos que o espaço tem gente continuamos a conseguir movimentar-nos entre o palco a zona de refeição ou a bilheteira com uma fluidez natural e mais que isso extremamente agradável.

A abertura do palco secundário, junto à piscina, coube ao duo oriundo da Cidade do México, mas agora sediado em Berlin, Bar de Monjas, que segundo o relato dos presentes tiveram uma prestação cheia de garra e à altura do que deles se esperava a destilar todo o seu fuzz no pico do calor desse dia, a fazerem-se ouvir por Moledo como se de um chamamento se tratasse.
A primeira banda que encontrámos no palco da piscina foram os Holy Mushroom, banda natural de Oviedo, que à medida que íamos subindo a colina em direcção ao recinto libertava uma vibração tão apropriada quanto perturbadora e que nos acolheu na perfeição como um convite a uma viagem morna pelos raios solares que nos aqueciam àquela hora do dia junto à piscina. Um concerto que apenas pecou por pequeno.
Quando os portugueses It Was the Elf se apresentaram poucos minutos depois, já encontraram o recinto mais preenchido e a banda teve oportunidade de injectar uma nova dose de adrenalina na tarde com a sua sonoridade bastante mais musculada e intensa, mostrando-se com uma garra evidente e inequívoca os It Was The Elf trouxeram as músicas do álbum editado em 2016, tendo ainda desvendado uma faixa nova para o público de Moledo.
Os It Was Elf deixaram o palco com um público bastante agradado com a prestação e completamente preparados para os refrescantes Stone Dead que vieram até à foz do Minho apresentar o seu novo disco, Good Boys, editado este ano, num registo mais leve e gingão do que é habitual nestas paragens. O público agradeceu a explosão enérgica e juvenil que estes trouxeram. Levantaram-se das toalhas e bastante gente abanava a anca a pedir mais deste som cheio de um groove muito próprio.

Neste registo ondulatório de altos e baixos ritmos conseguia agora entrever-se o plano que nos havia sido delineado com este alinhamento. O cruzamento de bandas tanto num palco como no outro iria ao longo dos dois revelar-se-ia muito bem estruturado de modo a compor o ambiente na forma mais heterogénea possível, trazendo picos de adrenalina mais efusivos como os Bar de Monjas, alternando com os cósmicos Holy Mushroom para novamente nos lançar no estilo mais ofensivo dos It Was the Elf e logo nos levar a um registo mais leve e repleto de rock n’roll dos Stone Dead.

O final da primeira tarde na piscina trouxe até nós os Black Bombaim que nessa tarde se apresentaram com mais uma peça na sua engrenagem, o saxofone. No seu estilo irrepreensível e característico coube-lhes o encerramento da tarde de sol e piscina. Depois de toda a alegria espalhada de forma contagiosa pelos Stone Dead que nos haviam libertado das sonoridades mais intrincadas dos It Was the Elf os Black Bombaim simplesmente entraram nos nossos pensamentos e construíram através da sua música momentos completamente memoráveis em termos sonoros. O saxofone acentuou uma série de nuances na música com que nos presentearam, permitindo uma viagem serena e intensa em direcção àqueles que pareciam ser já os últimos raios de sol do dia.

Findos os concertos na piscina o público dispersou-se pelo espaços do festival e muitos encaminharam-se de imediato para o palco principal. Existia alguma curiosidade com a actuação dos israelitas The Great Machine.
Tal como havia acontecido um par de horas atrás com os Stone Dead, que fogem actualmente um pouco à sonoridade predominante no Sonicblast, também aqui o público correspondeu e clamou por mais. Os The Great Machine trouxeram um concerto cheio de garra que mantiveram habilmente do princípio ao fim e souberam transformar a sua inesperada actuação em algo memorável. Dominaram o palco e o público com uma atitude a roçar um certo punk e noise, musculado e sem filtro. Exuberantes no mínimo. A repetir sem dúvida.

Seguiram-se os The Well, obscuro trio oriundo de Austin, também eles a fazerem a sua estreia em Portugal, e onde Lisa comanda o ritmo através do seu baixo carregando toda a actuação de uma sensualidade completamente inesperada. É ela que domina grande parte das atenções do público, com a sua atitude dir-se-ia quase displicente, através da forma autoritária com que comanda a secção rítmica da banda e o próprio público. Os The Well souberam aproveitar bem a hora que actuaram, e o concerto destes acompanhou a descida do sol no horizonte de uma forma quase sincronizada. À medida que o sol desaparecia evidenciavam-se cada vez mais as tonalidades mais pesadas e sombrias dos The Well que foram largamente aplaudidos pela surpresa causada.

Os senhores que seguiram, os Yuri Gagarin, também estreantes em solo português, oriundos da Suécia, entraram em palco naquele momento em que a claridade do sol já se vislumbra apenas reflectida na abóbada celeste. Atrás dos músicos o nome, imponente como a sonoridade dos mesmos parecia crescer à medida que passavam pelas suas músicas e nos transportavam numa viagem que nos levaria no cair da noite a sentir as primeiras constelações obscurecidas pela sonoridade espacial intrincada presente em músicas como Sea of Dust ou New Order. Um concerto que começou um pouco desligado do público mas que terminou no seu auge deixando uma certa sensação incompleta e algo confusa sobre o mesmo, mas um público bastante satisfeito com o que havia vivenciado.

Cerca das 21.30 os Kikagaku Moyo entraram em palco. Talvez porque o concerto anterior havia sido denso na sua totalidade a música dos Kikagaku Moyo parecia-nos suave demais…e foi assim que começaram com uma suavidade, macia e etérea que aos poucos se entranhou em nós e nos embrenhou no seu psicadelismo sexy e nostálgico, mas completamente positivo. O que nos trazem não é novo, mas a sua fórmula contém uma dose de abstração maior e mais extensa que a multidão que os recebe. Á medida que o concerto progride e a atmosfera que criaram envolve cada vez mais o público sente-se uma espécie de euforia sincera e desprendida a tomar conta de todo o recinto. Respirava-se em harmonia com o universo! Sem dúvida um dos momentos de maior sintonia entre todos os presentes, e um concerto ao qual poucos terão ficado indiferentes e que reflete toda a atmosfera com que identificamos o SonicBlast.

A tarefa dos suecos Monolord não seria fácil, apesar de conhecermos as capacidades da banda e de não existirem dúvidas sobre a mesma, suceder aos Kikagaku Moyo que nos haviam levado numa viagem serena e feliz pelo psicadelismo mais setentista que por lá passou pareceu naquele momento complicado.
Na verdade não foi. Os Monolord protagonizaram mais uma estreia irrepreensível, aguçando a nossa curiosidade pelo álbum cujo lançamento está bastante próximo. Conseguiram sem qualquer dificuldade comunicar com o publico e introduzir música a música a sua sonoridade mais pesada e complexa até ao final estrondoso com Empress Rising que granjeou francos aplausos pela eximia e intrincada execução, semente de uma agressividade latente e obscura e que aqueceu novamente a noite à qual trouxeram um fôlego nada inesperado deixando o público grato pela entrega da banda e muita gente com vontade de os rever.
 A noite parecia recomeçar novamente. Os Elder eram uma das estreias mais aguardadas. Com mais um guitarrista em palco criaram todo um plano suspenso sobre as suas complexas criações. Dedicaram-se aos álbuns mais recentes o que de certa forma arrefeceu a ligação que se esperava bastante estreita. A verdade é que em termos de execução os Elder são irrepreensíveis. Apesar de termos sentido um certo cansaço em alguns momentos, fruto talvez de este ser o último concerto da actual tourné, e também não são fáceis de digerir, mas perto da magnitude do som que criam e reproduzem em palco todos estes apontamentos não passam disso mesmo. A falange mais dedicada do público que os compreendeu do princípio ao fim, e que era bastante grande, aplaudiu efusivamente cada música porque de facto os Elder sem qualquer dificuldade cativam mesmo através das suas mais complexas composições. Resta-nos esperar que regressem em breve pois soube a pouco.

12 horas depois do inicio na piscina, tínhamos agora perante nós os The Cosmic Dead que substituíram os Kadavar no cartaz deste ano. No meio de azares e peripécias e com o público já a estranhar a demora na entrada em palco, informaram que haviam chegado há poucos minutos e iriam tocar com material cedido por outras bandas pois os seus instrumentos se tinham extraviado, agradecendo a todos os que tornaram o concerto ainda assim possível.
De repente não se sabe bem o que esperar, ou o que esperamos de facto. Não é tarefa fácil tocar com instrumentos de outros músicos, mesmo tratando-se de uma banda capaz de improvisos intermináveis. Não foi aos primeiros acordes que os reconhecemos na sua totalidade, mas a habilidade e capacidade destes músicos conseguiu transpor um obstáculo cruel com uma graciosidade fantástica, oferecendo-nos um concerto decerto irrepetível. Uma surpresa agridoce decerto mas da qual souberam tirar o melhor partido sem prejuízo algum para o público. Criaram ao longo do seu set os sonhos que muitos de nós levariam para a tenda transportando toda a turba que ainda ali se encontrava para um plano elevado com uma vista privilegiada sobre o Atlântico, junto ao qual muitos foram terminar a sua noite, até que um novo dia cheio de música comece.
Podem ver a reportagem completa no Musica em Dx com fotografia do Daniel Jesus!





The Machine; a Dinâmica da experimentação


Em contagem decrescente para o SonicBlast 2017, que irá acontecer em Moledo do Minho nos próximos dias 10,11 e 12 de Agosto, falámos um pouco com uma das bandas mais versáteis com quem contam este ano. O trio The Machine que já esteve entre nós, também no SonicBlast, em 2013. Conversámos informalmente com eles para vos dar a conhecer um pouco mais desta banda que iniciou o seu percurso em 2007 e que conta já com álbuns que são uma peça incontornável do que de novo acontece na música europeia de inspiração stoner. Falámos com David, o guitarrista e vocalista.

MDX - Para os nossos leitores que poderão não vos conhecer, quem faz o quê nos The Machine?
The Machine - Bem, temos o Hans, o nosso baixista, o Davy na bateria e eu como guitarrista e vocalista. Estamos juntos mais ou menos desde o outono de 2007 e tocamos rock, algumas das suas variadas formas.

MDX - Como escolheram o nome da banda?
The Machine - Foi durante uma sessão com um tabuleiro Oija que deu para o torto, numa noite escura e extremamente quente no meio do deserto de Flakkee, mais conhecido por pequeno Triângulo das Bermudas...Vendemos as nossas almas em troca de um sucesso infinito a tocar rock...e recomendaram-nos este nome.

MDX - Como desenvolvem as vossas músicas? Houve mudanças no processo criativo desde 2007 até agora?
The Machine – É quase sempre diferente de música para música. Algumas começam com demos que trazemos para a sala de ensaios, outras acontecem durante algum pequeno improviso que fazemos e surgem de forma quase instantânea. Por vezes usamos um riff de baixo do Hans ou uma batida especifica do Davy como ponto de partida e por aí fora. Algumas músicas levamos meses a finalizá-las, outras vezes levamos uma hora a chegar ao som final. Suponho que como a maioria das bandas trabalhamos como uma unidade. Um corpo só. Gradualmente passámos de uma situação em que apenas improvisávamos horas sem fim (há dez anos atrás era assim), e usávamos três acordes e uma quantidade semelhante de riffs por música com um solo de guitarra de dez minutos para depois compormos e estruturarmos e reestruturarmos ao mesmo tempo que também encurtávamos as músicas. Na verdade é muito mais fácil pensar um pouco as coisas e levar um pouco mais de tempo para que apareçam ideias novas e interessantes, ou seja agora levamos mais tempo a compor menos minutos de música.

MDX – O vosso ultimo álbum Offblast saiu em 2015. Já estão a trabalhar em músicas novas?
The Machine - Sim e não. Não, actualmente não estamos a escrever músicas novas. Sim, estamos a meio da gravação de um monte de músicas novas.

MDX – Quem são as vossas maiores influências na forma como fazem a vossa música?
The Machine – Há dez anos atrás quando começámos sentíamo-nos directamente influenciados por alguns artistas, hoje isso já não acontece. Por isso não existem actualmente nenhumas influências de vulto no que estamos a fazer apesar de todos nós trazemos influencias de outras músicas, como é normal. É correcto dizer que essas influências também vêm de outros estilos que extrapolam a nossa pequena cena. Para começar os nossos gostos pessoais são muito diversos. Eu passei agora algum tempo entre o Miles Davis dos anos 70, intercalando com algum punk hardcore e algum noise rock. Do ponto de vista criativo tenho-me interessado menos em tocar sem rumo definido para me focar mais em certos ambientes e composições. De um modo geral estamos mais focados. Mas a nossa maior influência criativa neste momento é talvez o facto de não nos querermos repetir e fazermos apenas aquilo nos apetece.

MDX – Se tivessem uma máquina do tempo, com quem e quando gostariam de tocar?
The Machine – ahahahahah! Bem, deixa-me pensar… Eu gostava de ir ao futuro...porque o passado é o passado. Como a nossa música tem estado sempre a evoluir e nós ainda somos uns deuses jovens, gostava de ver como estaremos daqui a 10 anos quando tivermos 40 e poucos, por isso basicamente gostaria de tocar comigo próprio!

 MDX – Como são os vossos concertos e o que podemos esperar do concerto no Sonic Blast?
The Machine – Infelizmente o nosso estilista demitiu-se há pouco tempo, foi trabalhar com uma banda mais na moda e com fatiotas a condizer por isso estamos um bocado à deriva na cena da imagem...mas como é verão e provavelmente vão estar pelo menos 30º graus é provável que estejamos de calções e t-shirt. Como sempre vamos dar o nosso melhor e divertir-mo-nos. É possível que no meio do set apareçam uma ou duas músicas novas. De certeza que não vamos tocar Moons of Neptune…. Nós tocámos no Sonic Blast em 2013 por isso também sabemos mais ou menos o que esperar do público. Digamos que isso é mais que suficiente para estejamos bastante ansiosos por voltar a Moledo.



Bandcamp  
Website Oficial



Entrevista publicada originalmente na Música em DX em 30/07/2017