Songs To Nowhere#109#Trendkill Radio#6.09.2021

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Entrevista aos Elder, de Massachussetts até Moledo foi um longo caminho

A meio do SonicBlast Moledo tivemos a fantástica oportunidade de falar com o Nicholas DiSalvo e o Jack Donovan, respectivamente guitarrista/vocalista e baixista dos norte-americanos Elder que foram cabeças de cartaz da primeira noite do festival.



Há já algum tempo e com alguma expectativa se aguardava a estreia do trio agora quinteto, americano em terra lusas, tendo inclusivamente existido uma data em 2015 que acabou por ser desmarcada por motivos alheios à banda.
No activo desde 2006 e com 4 discos editados, o último Reflections of a Floating World em junho deste ano, foi com o concerto da noite anterior que encerraram a tour, num misto de emoção e realização. Na verdade todo o concerto se assemelhou a uma quebra no ciclo viciante que são os Elder.

Encontrámo-los no espaço que a organização do SonicBlast disponibilizou para press center, descontraídos e a observar com alguma curiosidade os livros que aí se encontravam e tivemos um momento de conversa informal e divertida, sobretudo com a intenção de conhecer melhor as pessoas por detrás da muralha sonora que são os Elder.
 
 Isabel Maria – Como tem estado? A espera por um concerto dos Elder em Portugal foi longa! Como sentiram o concerto de ontem?

Elder – Fantástico. Nós sabemos disso, e também sentimos um pouco essa antecipação. já viajámos por quase toda a Europa e Portugal era um dos poucos países onde ainda não tínhamos tocado. Sentimos essa antecipação por parte do público e divertimo-nos imenso.

Isabel Maria – Os Elder andam a tocar e a editar discos desde 2008. Na altura em que começaram alguma vez vos passou pela cabeça que as coisas iriam atingir esta dimensão?

Elder – Nunca!! Acho que nem conseguíamos. Éramos miúdos a tocar na cave das casas dos nossos pais, éramos uns miúdos de secundário normalíssimos. Estávamos naquele ponto das nossas vidas em que tínhamos a vida à nossa frente e toda a gente esperava que fossemos estudar e arranjássemos um emprego….e nessa altura até podes sonhar em tocar e tudo o mais, mas na realidade achávamos que isto era impossível…. É como quando gostas de jogar à bola mas não esperas tornar-te um jogador profissional.



Isabel Maria – Neste momento a música é a vossa principal ocupação?

Elder – Sim….sim é! Quer dizer nós não ficamos por aí sem fazer nada em casa à espera quando não estamos em tour. Fazemos bastantes tournées e aí isto torna-se a nossa ocupação principal mas não porque não queremos trabalhar…na verdade acho que todos temos outras ocupações.

Isabel Maria – Mas a música também é um trabalho!?

Elder – Sim claro! Só que é um trabalho divertido! Realmente divertido! Nós não andamos em tour doze meses por ano, normalmente andamos em tour cerca de quatro meses…mas ainda assim temos de fazer qualquer coisa durante os restantes oito meses.

Isabel Maria – Mas actualmente é a vossa ocupação principal! Que outras ocupações ou trabalhos preenchem o vosso tempo quando não estão em tour?

Elder – Coisas relacionadas com a banda.. Eu trabalho para a nossa editora ( Nicholas ), o Jack faz alguns trabalhos de áudio e é canalizador. O nosso baterista tens uns trabalhos estranhos e é dono de uma loja de bebidas.

Isabel Maria – Neste álbum tem dois músicos convidados. Esse crescimento influenciou este trabalho?

Elder – Influenciou. Nós já tínhamos uma certa ideia de trazer outros músicos que pudessem adicionar diferentes texturas ou instrumentos ao álbum, como o Mike, que tocou Pedal Steel Guittar em algumas músicas do disco e ao acrescentarmos alguns instrumentos que nunca se tinham ouvido nas nossas músicas as coisas mudaram um pouco. Um dia gravámos uma jam de cinco horas e pensámos que iríamos aproveitar muito desse material no disco mas no final acabámos por usar muito poucas dessas coisas. Acabámos por ficar com imensa música e ideias…Talvez para usar mais tarde.
Tem sido muito bom termos mais dois músicos connosco. Foi óptimo termos dado este passo em frente e passar de um trio a um quinteto.



Isabel Maria – Como é que se conheceram?

Elder – O Michael Risberg que é quem está a tocar a guitarra e teclas, andou comigo ( Nicholas ) na universidade e tocámos junto numa banda chamada Gold & Silver. Há uns anos atrás gravámos um disco para uma editora francesa…o Michael Samos é gerente da loja de guitarras da nossa cidade natal e eu vou lá todas as semanas. É um tipo super simpático e um dia convidámo-lo para uma jam.

Isabel Maria– Um processo natural portanto, certo?

Elder – Sim. E com pessoas que conhecemos e com quem temos laços de amizade e coisas em comum.

Isabel Maria - O nome do vosso novo álbum, soa vagamente a uma declaração de intenções ou um conselho, ou quem sabe advertência. É essa a intenção?

Elder – Sim, penso que tem vagamente o seu quê de advertência, mas cada um pode interpretá-lo à sua maneira.
Eu gosto de pensar que as músicas refletem coisas que vivenciei na minha breve vida. Mas especialmente que refletem coisas e eventos desde que a banda começou. E cada música é uma música e fala por si.

Isabel Maria – Quem fez a capa do vosso disco?

Elder – O nosso bom amigo Adrian Dexter faz a maioria das nossas ilustrações e t-shirts. Existem outros artistas com quem colaboramos mas é o Adrian que faz quase tudo, principalmente as capas. Crescemos com ele e agora ele vive na Dinamarca onde trabalha em animação, mas todos os anos ele faz uma pausa no trabalho dele e faz parte da tour connosco a fazer projeções durante os nossos concertos. Infelizmente ele não pode vir connosco desta vez. Talvez para a próxima.

Isabel Maria – Quais são as bandas que consideram ser os vossos clássicos. Aquelas que fazem parte da vossas escolhas desde sempre ou às quais retornam sempre?

Elder – Vengaboys!! !!! Definitivamente! (Risos) E ora bem clássicos…eu ando a ouvir os mesmo discos desde os 15 anos mas talvez Motorpsyco, Thin Lizzy os Yes….eu oiço tanta musica que torna-se muito difícil escolher…



Isabel Maria – E coisas mais recentes ou que vos tenham despertado a atenção recentemente?

Elder – Ah…Não sei! Essa é aquela pergunta mesmo difícil e embaraçosa…
Não ouvimos assim muita coisa recente mas os Weedpecker, uma banda polaca fantástica, ou os Papir, outra banda fantástica, o SonicBlast deveria trazê-los para a próxima edição. Outra banda fantástica são os NeedlePointe, uma cena mais prog rock e um tanto ou quanto obscura.

Isabel Maria – Vão ficar para ver alguns concertos?

Elder – Dois terços de nós vão ficar! (Risos)

Isabel Maria – Algum concerto em especial agora durante a tarde no palco junto à piscina?

Elder – Há um palco junto a uma piscina? Vamos ter de ir ver isso melhor!

Isabel Maria– Algumas palavras para o público do SonicBlast?

Elder – Sejam excelentes uns para os outros e divirtam-se!!!!!!



SonicBlast Moledo’17 Dia 11, de Moledo ao Espaço em 12 concertos

A espera terminou. É sexta-feira. A temperatura subiu, o vento parou e cada vez mais gente sobe as ruas que vão dar à piscina de Moledo onde os concertos começam por volta das 13.30. O SonicBlast está prestes a começar. Nas próximas 36 horas iremos ver 24 bandas com uma pausa para descanso. A bilheteira encontra-se repleta de gente a trocar bilhetes por pulseiras, numa azáfama estranhamente coordenada. O Sonicblast voltou a esgotar. O que não era difícil de adivinhar tendo em conta o cartaz que apresentaram para 2017.
Novamente a apostar em doses equilibradas em bandas recentes e bandas consagradas e com um leque de estreias que nos obriga a parar para pensar, um cartaz com espaço para várias sonoridades dentro do espectro a que se dirige… Perguntamo-nos se teremos a habilidade de sentir tanto de tantas formas em tão curto espaço de tempo. As zonas envolventes encontram-se agora repletas de gente, mas não daquela forma que não nos permite fazer nada a não ser seguir atrás uns dos outros. Ou seja, apesar de verificarmos que o espaço tem gente continuamos a conseguir movimentar-nos entre o palco a zona de refeição ou a bilheteira com uma fluidez natural e mais que isso extremamente agradável.

A abertura do palco secundário, junto à piscina, coube ao duo oriundo da Cidade do México, mas agora sediado em Berlin, Bar de Monjas, que segundo o relato dos presentes tiveram uma prestação cheia de garra e à altura do que deles se esperava a destilar todo o seu fuzz no pico do calor desse dia, a fazerem-se ouvir por Moledo como se de um chamamento se tratasse.
A primeira banda que encontrámos no palco da piscina foram os Holy Mushroom, banda natural de Oviedo, que à medida que íamos subindo a colina em direcção ao recinto libertava uma vibração tão apropriada quanto perturbadora e que nos acolheu na perfeição como um convite a uma viagem morna pelos raios solares que nos aqueciam àquela hora do dia junto à piscina. Um concerto que apenas pecou por pequeno.
Quando os portugueses It Was the Elf se apresentaram poucos minutos depois, já encontraram o recinto mais preenchido e a banda teve oportunidade de injectar uma nova dose de adrenalina na tarde com a sua sonoridade bastante mais musculada e intensa, mostrando-se com uma garra evidente e inequívoca os It Was The Elf trouxeram as músicas do álbum editado em 2016, tendo ainda desvendado uma faixa nova para o público de Moledo.
Os It Was Elf deixaram o palco com um público bastante agradado com a prestação e completamente preparados para os refrescantes Stone Dead que vieram até à foz do Minho apresentar o seu novo disco, Good Boys, editado este ano, num registo mais leve e gingão do que é habitual nestas paragens. O público agradeceu a explosão enérgica e juvenil que estes trouxeram. Levantaram-se das toalhas e bastante gente abanava a anca a pedir mais deste som cheio de um groove muito próprio.

Neste registo ondulatório de altos e baixos ritmos conseguia agora entrever-se o plano que nos havia sido delineado com este alinhamento. O cruzamento de bandas tanto num palco como no outro iria ao longo dos dois revelar-se-ia muito bem estruturado de modo a compor o ambiente na forma mais heterogénea possível, trazendo picos de adrenalina mais efusivos como os Bar de Monjas, alternando com os cósmicos Holy Mushroom para novamente nos lançar no estilo mais ofensivo dos It Was the Elf e logo nos levar a um registo mais leve e repleto de rock n’roll dos Stone Dead.

O final da primeira tarde na piscina trouxe até nós os Black Bombaim que nessa tarde se apresentaram com mais uma peça na sua engrenagem, o saxofone. No seu estilo irrepreensível e característico coube-lhes o encerramento da tarde de sol e piscina. Depois de toda a alegria espalhada de forma contagiosa pelos Stone Dead que nos haviam libertado das sonoridades mais intrincadas dos It Was the Elf os Black Bombaim simplesmente entraram nos nossos pensamentos e construíram através da sua música momentos completamente memoráveis em termos sonoros. O saxofone acentuou uma série de nuances na música com que nos presentearam, permitindo uma viagem serena e intensa em direcção àqueles que pareciam ser já os últimos raios de sol do dia.

Findos os concertos na piscina o público dispersou-se pelo espaços do festival e muitos encaminharam-se de imediato para o palco principal. Existia alguma curiosidade com a actuação dos israelitas The Great Machine.
Tal como havia acontecido um par de horas atrás com os Stone Dead, que fogem actualmente um pouco à sonoridade predominante no Sonicblast, também aqui o público correspondeu e clamou por mais. Os The Great Machine trouxeram um concerto cheio de garra que mantiveram habilmente do princípio ao fim e souberam transformar a sua inesperada actuação em algo memorável. Dominaram o palco e o público com uma atitude a roçar um certo punk e noise, musculado e sem filtro. Exuberantes no mínimo. A repetir sem dúvida.

Seguiram-se os The Well, obscuro trio oriundo de Austin, também eles a fazerem a sua estreia em Portugal, e onde Lisa comanda o ritmo através do seu baixo carregando toda a actuação de uma sensualidade completamente inesperada. É ela que domina grande parte das atenções do público, com a sua atitude dir-se-ia quase displicente, através da forma autoritária com que comanda a secção rítmica da banda e o próprio público. Os The Well souberam aproveitar bem a hora que actuaram, e o concerto destes acompanhou a descida do sol no horizonte de uma forma quase sincronizada. À medida que o sol desaparecia evidenciavam-se cada vez mais as tonalidades mais pesadas e sombrias dos The Well que foram largamente aplaudidos pela surpresa causada.

Os senhores que seguiram, os Yuri Gagarin, também estreantes em solo português, oriundos da Suécia, entraram em palco naquele momento em que a claridade do sol já se vislumbra apenas reflectida na abóbada celeste. Atrás dos músicos o nome, imponente como a sonoridade dos mesmos parecia crescer à medida que passavam pelas suas músicas e nos transportavam numa viagem que nos levaria no cair da noite a sentir as primeiras constelações obscurecidas pela sonoridade espacial intrincada presente em músicas como Sea of Dust ou New Order. Um concerto que começou um pouco desligado do público mas que terminou no seu auge deixando uma certa sensação incompleta e algo confusa sobre o mesmo, mas um público bastante satisfeito com o que havia vivenciado.

Cerca das 21.30 os Kikagaku Moyo entraram em palco. Talvez porque o concerto anterior havia sido denso na sua totalidade a música dos Kikagaku Moyo parecia-nos suave demais…e foi assim que começaram com uma suavidade, macia e etérea que aos poucos se entranhou em nós e nos embrenhou no seu psicadelismo sexy e nostálgico, mas completamente positivo. O que nos trazem não é novo, mas a sua fórmula contém uma dose de abstração maior e mais extensa que a multidão que os recebe. Á medida que o concerto progride e a atmosfera que criaram envolve cada vez mais o público sente-se uma espécie de euforia sincera e desprendida a tomar conta de todo o recinto. Respirava-se em harmonia com o universo! Sem dúvida um dos momentos de maior sintonia entre todos os presentes, e um concerto ao qual poucos terão ficado indiferentes e que reflete toda a atmosfera com que identificamos o SonicBlast.

A tarefa dos suecos Monolord não seria fácil, apesar de conhecermos as capacidades da banda e de não existirem dúvidas sobre a mesma, suceder aos Kikagaku Moyo que nos haviam levado numa viagem serena e feliz pelo psicadelismo mais setentista que por lá passou pareceu naquele momento complicado.
Na verdade não foi. Os Monolord protagonizaram mais uma estreia irrepreensível, aguçando a nossa curiosidade pelo álbum cujo lançamento está bastante próximo. Conseguiram sem qualquer dificuldade comunicar com o publico e introduzir música a música a sua sonoridade mais pesada e complexa até ao final estrondoso com Empress Rising que granjeou francos aplausos pela eximia e intrincada execução, semente de uma agressividade latente e obscura e que aqueceu novamente a noite à qual trouxeram um fôlego nada inesperado deixando o público grato pela entrega da banda e muita gente com vontade de os rever.
 A noite parecia recomeçar novamente. Os Elder eram uma das estreias mais aguardadas. Com mais um guitarrista em palco criaram todo um plano suspenso sobre as suas complexas criações. Dedicaram-se aos álbuns mais recentes o que de certa forma arrefeceu a ligação que se esperava bastante estreita. A verdade é que em termos de execução os Elder são irrepreensíveis. Apesar de termos sentido um certo cansaço em alguns momentos, fruto talvez de este ser o último concerto da actual tourné, e também não são fáceis de digerir, mas perto da magnitude do som que criam e reproduzem em palco todos estes apontamentos não passam disso mesmo. A falange mais dedicada do público que os compreendeu do princípio ao fim, e que era bastante grande, aplaudiu efusivamente cada música porque de facto os Elder sem qualquer dificuldade cativam mesmo através das suas mais complexas composições. Resta-nos esperar que regressem em breve pois soube a pouco.

12 horas depois do inicio na piscina, tínhamos agora perante nós os The Cosmic Dead que substituíram os Kadavar no cartaz deste ano. No meio de azares e peripécias e com o público já a estranhar a demora na entrada em palco, informaram que haviam chegado há poucos minutos e iriam tocar com material cedido por outras bandas pois os seus instrumentos se tinham extraviado, agradecendo a todos os que tornaram o concerto ainda assim possível.
De repente não se sabe bem o que esperar, ou o que esperamos de facto. Não é tarefa fácil tocar com instrumentos de outros músicos, mesmo tratando-se de uma banda capaz de improvisos intermináveis. Não foi aos primeiros acordes que os reconhecemos na sua totalidade, mas a habilidade e capacidade destes músicos conseguiu transpor um obstáculo cruel com uma graciosidade fantástica, oferecendo-nos um concerto decerto irrepetível. Uma surpresa agridoce decerto mas da qual souberam tirar o melhor partido sem prejuízo algum para o público. Criaram ao longo do seu set os sonhos que muitos de nós levariam para a tenda transportando toda a turba que ainda ali se encontrava para um plano elevado com uma vista privilegiada sobre o Atlântico, junto ao qual muitos foram terminar a sua noite, até que um novo dia cheio de música comece.
Podem ver a reportagem completa no Musica em Dx com fotografia do Daniel Jesus!