Songs To Nowhere#109#Trendkill Radio#6.09.2021

Bong, de um só fôlego.




A Galeria Zé dos Bois acolheu, na passada quinta feira, o concerto da tournée “Meditations in May” dos ingleses Bong. Um concerto difícil de traduzir por palavras e mesmo imagens.
Esperava-os uma sala cheia, atenta e sedenta pela sonoridade do trio que  abrange atmosferas drone e  Doom.
A guitarra de Mike Vest rompe o silêncio que se fez quando entraram em palco sob três débeis focos de luz. Durante quinze minutos Vest manipula a guitarra e todos os seus efeitos das mais variadas formas, introduzindo e transformando o som num mantra, como se este viesse até nós em ondas sucessivas, cada vez mais fortes , que nos envolvem cada vez mais e se vai sobrepondo em várias e complexas camadas, que se  sobrepõe mas não se anulam e em que a densidade aumenta, até ao momento exacto que todos entramos num transe meditativo.
Quando a voz de David Terry entra em cena quase nos tira do transe de hipnótico intemporal onde nos encontrávamos, e de súbito, até chega mesmo a parecer que se vai inverter o rumo ou se vai seguir outra qualquer direcção, mas não.  O trio constrói habilmente uma paisagem sonora  poderosa e intrincada, uma elaborada e complexa teia composta pela guitarra de Mike Vest e todos os seus efeitos, assente nos pilares basilares do baixo de David Terry e da bateria de Mick Smith. David e Terry completamente imóveis em palco, David a perscrutar o universo e Terry com a cabeça entre as pernas como se tivesse abandonado o seu próprio corpo sob a bateria enquanto Vest continua a construir onda a onda “Polaris” até nos envolver completamente.
Recebida essa maré de sonora, construída essa teia intrincada, bastou-lhes manipular o som que nos manteve em silêncio, absortos, num estado quase meditativo durante cerca de setenta minutos.  
Durante  cerca de setenta minutos, sem qualquer paragem, levaram o público a percorrer a vastidão do seu universo doom, elevando uma  sonoridade que poderia ser a banda sonora do estertor final de um planeta,  tal a intensidade do som que emanavam e que manteve toda a sala suspensa, numa respiração que nos leva ao mais profundo pedaço da nossa etérea existência.
Um espectáculo concebido especificamente para se fazer sentir no nosso mais profundo âmago sem quaisquer distracções visuais.
 Foi como se o mundo fora daquela sala se tivesse auto suprimido durante aquele tempo. Termina, sais da sala, respiras e é todo um novo mundo que se revela após Meditations in May.


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