A Galeria Zé dos Bois acolheu, na
passada quinta feira, o concerto da tournée “Meditations
in May” dos ingleses Bong. Um
concerto difícil de traduzir por palavras e mesmo imagens.
Esperava-os
uma sala cheia, atenta e sedenta pela sonoridade do trio que abrange atmosferas drone e Doom.
A guitarra de
Mike Vest rompe o silêncio que se fez quando entraram em palco sob três débeis
focos de luz. Durante quinze minutos Vest manipula a guitarra e todos os seus
efeitos das mais variadas formas, introduzindo e transformando o som num
mantra, como se este viesse até nós em ondas sucessivas, cada vez mais fortes ,
que nos envolvem cada vez mais e se vai sobrepondo em várias e complexas
camadas, que se sobrepõe mas não se
anulam e em que a densidade aumenta, até ao momento exacto que todos entramos
num transe meditativo.
Quando a voz
de David Terry entra em cena quase nos tira do transe de hipnótico intemporal
onde nos encontrávamos, e de súbito, até chega mesmo a parecer que se vai inverter
o rumo ou se vai seguir outra qualquer direcção, mas não. O trio constrói habilmente uma paisagem sonora
poderosa e intrincada, uma elaborada e
complexa teia composta pela guitarra de Mike Vest e todos os seus efeitos,
assente nos pilares basilares do baixo de David Terry e da bateria de Mick
Smith. David e Terry completamente imóveis em palco, David a perscrutar o
universo e Terry com a cabeça entre as pernas como se tivesse abandonado o seu
próprio corpo sob a bateria enquanto Vest continua a construir onda a onda “Polaris” até nos envolver completamente.
Recebida essa
maré de sonora, construída essa teia intrincada, bastou-lhes manipular o som
que nos manteve em silêncio, absortos, num estado quase meditativo durante
cerca de setenta minutos.
Durante cerca de setenta minutos, sem qualquer
paragem, levaram o público a percorrer a vastidão do seu universo doom, elevando
uma sonoridade que poderia ser a banda
sonora do estertor final de um planeta, tal a intensidade do som que emanavam e que manteve
toda a sala suspensa, numa respiração que nos leva ao mais profundo pedaço da
nossa etérea existência.
Um espectáculo concebido
especificamente para se fazer sentir no nosso mais profundo âmago sem quaisquer distracções visuais.
Foi como se o mundo fora daquela sala se
tivesse auto suprimido durante aquele tempo. Termina, sais da sala, respiras e
é todo um novo mundo que se revela após Meditations in May.
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