É verdade que isso não diminui em nada o
seu trabalho. Tocaram para uma casa a meio gás como se estivessem num
estádio cheio e com a garra característica da sua sonoridade encheram e
preencheram todos os espaços livres do clube do Cais do Sodré e os
presentes corresponderam à entrega da banda.
Fizeram estremecer paredes e corpos.
Actualmente em tour para promover o seu mais recente registo, Stop Mute Defeat
editado há pouco mais de um mês, abriram as hostilidades pouco passava
das 23 horas com uma faixa que neste momento ainda é difícil de
encontrar, mas que caracteriza o momento pelo qual esta dupla criativa
passa actualmente. VI X, lado B de Pulse, lançado
ontem, 28 de Junho, é uma declaração inequívoca, quase uma denúncia de
tudo o que de errado se passa actualmente, ou o seu somatório. “VI-X“, é o termo científico usado para se referir à sexta maior extinção na Terra, sendo esse o momento que actualmente vivemos. Ego Sensation
trouxe consigo a névoa toda do mundo e fez questão de nos envolver nela
ao longo de todo o concerto pisando com uma convicção fabulosa o
pequeno pedal que a libertava e nos envolvia rapidamente a todos. We are what we Are, we are what you see,
assim cantam em uníssono sobre o poderoso som que produzem,a abrir
caminho às novas músicas e mostrando-se arautos de um psicadelismo que
volta a pisar terrenos contestatários e controversos.
A postura combativa e desafiadora, o sorriso ora cerrado ora provocador de Ego Sensation e Dave
não engana e acompanhados por um baterista ainda mais temíveis se
tornam, como se de um só grito derrubassem meia cidade. Têm algo mais a
dizer que aquilo que estamos na realidade a ouvir. Irão dizê-lo em Attack Mode,
através dos ritmos compassados e dos quais é impossível distanciar a
voz de comando de ambos. Regressam um pouco atrás e oferecem-nos Hand in Hand de H-p1
de 2011, carregando com intensidade no efeito quase ensurdecedor que
nos remete para um psicadelismo industrial e negro. Pesado, de tal forma
pesado como se quase ficássemos presos ao chão, num prelúdio que nos
levaria novamente a 2017 com Entertainer, Overlord e Trick of the Mind
num piscar de olho a um certo pós punk. Apesar de não terem a casa
cheia que o seu trabalho merece, é um facto que souberam levar este
contratempo com um glamour que poucos têm e presentearam o público com
um pequeno encore que nos deixou um zumbido que se prolongará por toda a
semana. Controversos, perturbadores da ordem, instigadores da
revolução, a música dos White Hills ultrapassou-se a si própria, inserindo a banda num nicho tão à parte mas ao mesmo tempo tão mundano.
As noites de domingo tem o infeliz
hábito de ser ingratas para as bandas. Neste caso a noite terá sido
especialmente ingrata para quem faltou a este encontro.
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