Estiveram
em Portugal na passada edição do Reverence
Valada, no entanto os concertos de festivais são muito diferentes da
situação em que agora os reencontramos. Ter a banda ao nível dos olhos ou ao
alcance da mão é comparável a estar de facto noutro planeta com eles.
Os
Mars Red Sky estiveram na sexta-feira
passada em Lisboa, depois de, na noite anterior terem tocado na cidade do
Porto. Trouxeram até nós um pouco da sua visão do mundo a partir de Marte.
Podíamos descrever esta paragem no Sabotage
Clube como um concerto intimista mas inclinamo-nos mais para o lado
introspectivo e melancólico da viagem espacial até ao céu do planeta vermelho,
não a intimidade da banda com o público por causa do espaço, mas a comunhão ao
sentir o som que nos envolve completamente.
Estes
rapazes franceses são exímios criadores de ambientes e representam o que neste
momento se faz de bom stoner psicadélico na Europa. Já estão num patamar que
lhes confere um certo estatuto, que torna esta passagem pelo clube do Cais do
Sodré algo insólita mas altamente satisfatória, e sobretudo agradavelmente
surpreendente para aqueles que ali se encontram e já há algum tempo vinham
reclamando um concerto do trio de Bordéus em Portugal.
O
público compareceu à chamada e o clube encontrava-se lotado para os receber.
Podia ler-se nas caras do vocalista Julien
Prase, Jimmy Kinast, baixista, e Matgazz
baterista alguma surpresa e uma serena felicidade com este mar de gente que
preenchia todos os espaços possíveis do clube para os ver.
A
projecção de imagens, sob o pano de fundo do palco, que inclui desde cavalos a
correr a naves a ascender na atmosfera, árvores a serem fustigadas pelo vento
ou meros jogos de cor e luz tão próprios nestes ambiente valoriza muito o
trabalho dos Mars Red Sky que construíram sobre essa tela um concerto que foi
sempre subindo de tom, empatia e intensidade sensorial, amplificado pelo jogo
de luzes e projecção que levou toda massa humana a render-se perante a aura
cósmica da banda.
Um
público feliz, foi o que o trio francês encontrou ao subir ao palco para tocar
numa versão ainda mais longa de Alien
Grounds/ApexIII, a primeira faixa do último disco. A viagem começou assim
num sereno crescendo, em que o público ondulava como se estivesse submerso numa
piscina quente, outros dir-se-ia estavam já onde a gravidade é nula.
Na
construção desta metáfora alusiva ao céu do planeta vermelho e deserto, sobre a
qual consumam a sua sonoridade, é estruturante a habilidade de construir
poderosos riffs de guitarra, que quase obliteram a voz de Julien mas que a deixam exactamente no ponto do limbo espacial onde
ela deve permanecer. O espaço como objecto lírico presente também em Strong Reflexion do aclamado disco homónimo
de 2011. “Dead stars are burning in the
sky” canta Julien e com ele o
público, que sorri feliz, à medida que o ritmo cadente e poderoso do baixo de Kinast aumenta de intensidade em
sintonia com a bateria do esguio Matgazz.
Na
tela sucedem-se imagens que nos desafiam a sentir a indiscutível dicotomia
entre a melancolia cósmica e a universalidade desse mesmo cosmos do qual todos
fazemos parte. Um convite à introspecção cósmica com The Light Beyond e Hovering
Satellites com o arrastar crescente dos riffs da guitarra de Julien a gritar deserto por todos os
acordes,e a bateria de Matgazz num crescendo poderoso, facilmente
fazendo esquecer que partilhámos quase duas horas da nossa vida dentro daquele
espaço. Num ápice cósmico de gravidade nula, Shot in Providence e Up the
Stairs, completam o périplo ao céu do planeta vermelho.
Os
Mars Red Sky são possuidores de uma
rara capacidade de saciar o público através de um abraço cósmico que os
arrebata sem aviso e foi isso que nos
trouxeram, sem mais artifícios. A promessa cumprida aplaudida por todos, numa gratidão imensa pela viagem
proporcionada.
Aguardamos
notícias de outras viagens. Mandem fotos do céu de Marte.
Podem ver a reportagem completa no Música em DX com fotografia Daniel Jesus
Podem ver a reportagem completa no Música em DX com fotografia Daniel Jesus
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